Tuesday, May 20, 2014

 

O pintor



Ando a pintar a casa onde nasci há quase 54 anos. Dá trabalho, mas sabe bem.
O pior é a sujeira que faço e só a paciência da Conceição (e muito diluente) consegue limpar.



Friday, May 16, 2014

 

A doença mental oculta




A sociedade produz muita gente mentalmente doente, em maior ou menor grau.

Os doentes mentais graves são percebidos como tal pelas pessoas comuns. Uns revelam perigosidade social ou agressividade, outros não.

Certos doentes mentais graves são apenas diagnosticados pelos médicos e, se tratados, podem levar uma vida comum e passar por gente normal.

Os doentes mentais graves mais perigosos são os que nem as pessoas comuns nem os médicos conseguem identificar.

São pessoas tão normais nos comportamentos sociais, por vezes muito bem sucedidas social, económica, profissional ou politicamente, que são vistos como fortes, vencedores.

Admirados ou temidos, a ninguém lembraria que pudessem sofrer de paranóia extrema.

De resto são inteligentes, organizados e ativos em grau acima da média. Multiplicam-se em atividades com frequentes bons resultados.

Por vezes, quem os conhece na intimidade do lar ou da profissão, se prestar atenção, estranha e choca-se com certos comportamentos, por revelarem frieza, perversão, crueldade ou maldade acima do normal.

Mas mesmo estas pessoas se indignariam se lhes dissessemos que estão perante um caso de loucura grave, não diagnosticada.

Grandes lideres políticos e religiosos da história humana foram doentes mentais graves desta espécie – doença mental grave oculta.

Nos livros de história são colocados, quando muito, ao lado dos criminosos quando deveriam figurar na galeria dos líderes loucos (os declaradamente loucos, que infelizmente também não faltaram).

Exemplos grandes: Hitler, Goering, Himmler, Stalin, Mao, Pol-Pot...

E se modernamente os declaradamente loucos hoje serão raros os que podem causar grandes males, os ocultamente loucos continuam a proliferar, na política, nas empresas, nos organismos públicos, nas escolas, tribunais, lares de idosos, hospitais, por toda a parte fazendo das pequenas vidas da gente comum pequenos infernos ou apenas tornando mais agreste o quotidiano dos que tem o azar de se cruzar com eles.



 

A festa da democracia



Não gosto de festas. Mas de vez enquando também vou. Encontrar pessoas é uma oportunidade engraçada e descontraída de passear o olhar pela biodiversidade humana.

Como não comungo de sentimentos gerais (sinto-me distante o suficiente para me considerar mais observador que participante) depressa me canso e me apetece ir embora.

Dia de eleições é também uma espécie de dia festivo. De encontros e de convívios que, breves, não chegam a cansar.

Votar, de tempos a tempos, convoca o povo (de que faço parte) para as escolhas políticas. Eu sei que é uma farsa. As escolhas foram feitas por outros e o povo é convidado a votar para que se possa fazer de conta que é ele quem mais ordena.

Mas para o desgraçado povo é um dia de festa, diferente, animado, festivo.
E eu sinto-me um bocadinho feliz por ver o meu povo bem.

Mesmo sabendo que é uma farsa sou capaz de ir votar por solidariedade com o povo, como um gesto de pertença, que reafirma que eu gosto de lhe pertencer, gosto de ser português e amo a língua que é nossa.

Em todo o caso, sabendo que o meu voto é inútil, que seja inútil inteiramente: votarei num pequeno partido qualquer, que não possa tirar proveito algum das eleições (nem sequer chegue aos subsídios por cada voto obtido, que só os maiores recebem do contribuinte).







 

O fluxo invertido




A energia vital, vitalidade, flui em nós, como nos animais, de forma constante e poderosa. Observem-se os animais em liberdade, em harmonia com o seu ambiente natural e a energia que parecem esbanjar é enorme, como se estivessem imbuídos de uma forte alegria de viver.

Também as crianças pequenas exibem uma energia quase inesgotável (só o sono os desliga) mudando de objeto da sua atenção inúmeras vezes, mas mantendo essa vitalidade transbordante.

Nesses seres a energia vital flui de forma natural: sentir – pensar (no caso dos humanos) – agir.

A educação e o controle social vai desde muito cedo e de forma persistente ao longo da vida mudando o curso do fluxo vital (educar é podar).

Passam a funcionar em fluxo invertido: pensar – agir – sentir.

Acontece que pensar é usar ferramentas mentais incutidas pela sociedade no indivíduo e essa tralha ideológica, tantas vezes absurda, constitui uma floresta de enganos.

O que pensamos é o resultado do processamento individual de uma infinidade de conceitos e preconceitos. Só nos pertence em pequena medida. Quase tudo nos foi incutido.

Já o que sentimos é genuinamente nosso e renova-se constantemente como a água que brota da fonte.

E se o que pensamos nem é nosso e pode estar errado (tantas vezes está) o que sentimos está sempre certo, mesmo que nos leve a cometer erros. Esses erros são nossos e nós gostamos naturalmente de tudo o que é nosso.

Com o fluxo vital invertido, seguindo o pensar e não o sentir, a maioria dos humanos vive vidas infelizes, emocionalmente pobres e mentalmente perturbadas. A sua energia vital é baixa. Tentam compensar isso com estímulos do exterior: comida (obesidade), compras (o comércio vive prospera com essa sede insaciável) novas experiências de vida (viagens, festas, encontros) ou sensoriais repetidas ou viciantes (sexo, álcool, drogas – tabaco incluído) que os façam sentir vivos.

Tudo é na verdade inútil para devolver a harmonia e bem estar perdidos na infância, quando a energia fluia naturalmente.

Por mais compras que faça e experiências que viva, nada lhe pode dar o que perdeu.

Consegue apenas alegrias breves, que logo que se apagam os deixam ainda mais abatidos e a precisar de novos estímulos. Um ciclo de sofrimento, mais ou menos consciente que no limite pode levar ao suicídio, embora geralmente apenas produza seres tristes (basta observar a cara que fica quando tiram as máscaras sociais que usam para sobreviver) apáticos e temerosos. Quase inaptos para se relacionar emocionalmente com os outros. Porque se o fluxo vital nos liga (a tudo e a todos) o sua falta bloqueia a nossa capacidade de interação verdadeira e de fruição da vida.

Daí a nostalgia da infância e o amor aos animais. Sentem que é por ali, algures (infância e vida natural) que ficou enterrado um tesouro incomparável.

Não existe ser mais infeliz e medroso que o ser humano adulto. Somente os animais em cativeiro mostram igualmente quebras visíveis da sua energia vital (alguns chegam a morrer de tristeza). Merece simpatia e compaixão.

Mas merece também um conselho, que aqui dou de graça: A fonte inesgotável de energia vital continua lá, soterrada pelo lixo que nos impingem.

Para lhe aceder temos de contornar a tralha. O nosso instinto, se o seguirmos, acerta o rumo. É para cada um o melhor que pode fazer a si mesmo – recuperar a sua fonte de energia vital permitindo que flua naturalmente: sentir – pensar – agir.

Deixar de buscar fora o que existe dentro e é a sua única verdadeira riqueza.

Tuesday, May 13, 2014

 

Advogado, mas pouco




O   Direito interessa-me pouco. Quase nada.
Apenas o indispensável para poder desempenhar bem as tarefas de que aceito ocupar-me.
Por isso nunca serei um bom advogado nem um homem de $uce$$o.
Todavia, sou uma excelente pessoa.
Não se pode ter tudo, não é?




 

Um homem religioso



Eu sou um homem religioso.
A vida para mim é um mistério sagrado.

A minha religião não tem rituais,
Padres, profetas ou santos
Nem igrejas aonde rezar.

A minha religião não me obriga a nada.
Pede-me apenas que seja eu
E encare a vida
Como a parte encara todo:
Como família.

A minha religião talvez existisse
Antes de mim.
Talvez morra comigo.

A minha religião não tem nome
E nem precisa.
Como eu, basta-lhe existir.
 
 

Thursday, May 08, 2014

 
Topos de gama

 

Feliz sem fé




Não sou crente. Respeito as crenças alheias e a sua fé religiosa. Procuro evitar a exibição da minha atitude de não crença, não por qualquer calculismo, mas porque é assunto do foro íntimo e ninguém tem nada com isso.
Exteriormente, os ritos da religião tradicional (católica) não me chocam nem me convocam. Interiormente, nada me dizem.
Não me incomodando por aí além, se por facilidade de ocasião calhar a assistir a uma missa, não gosto mas não me importo.
Dispenso-me de imitar os gestos e as rezas dos crentes, porque isso seria hipocrisia. Mas assisto sem problemas.

O que não sei e é muito não me atemoriza nem me incomoda.
Por isso não tenho a necessidade de preencher lacunas com crenças ou fé religiosa.

Basta-me a consciência de que o que sei é pouco e o que ignoro é
muito. E aceito bem isso.
Há partes do mistério da vida que não conheço nem posso conhecer.
Assim foi determinado por circunstâncias exteriores a mim e eu aceito.
Não me dá qualquer inquietação.
Trazemos inscrito no instinto de sobrevivência medos que, sendo
comuns, podemos, se quisermos, domesticar e tornar inofensivos ou superados.

O medo da morte e do sofrimento são os maiores. A eles respondem as crenças e as religiões e isso está bem para quem permaneça preso a temores primitivos. Assim, pode atenuar os seus efeitos negativos.
No meu caso, fui-os superando. Gosto demais da vida mas não temo a minha morte. Sei que jamais a encontrarei. Quando ela estiver presente, eu não estarei.
A morte alheia é um facto triste, mas superável. O sofrimento dos
entes queridos dói também em nós.
Mas são tudo factos da vida. E vivendo, aceitamo-la em bloco
com tudo o contem e vamos descobrindo. Descobrimo-nos também a nós.
Sobre a vida após a morte nada sei a não ser que por agora nada posso saber. Isto basta-me.
Foi mais difícil de aceitar e permanece incompreensível a
necessidade do sofrimento, quer humano quer animal, sobretudo o
sofrimento imerecido.
Do sofrimento, posso dizer com certeza que é sempre transitório.
Por muito grande que seja tem um fim. 
Se for insuportável, sobrevem a morte, que liberta.
Ninguém gosta de sofrer (à excepção dos masoquistas e mesmo a
esses nem todo o sofrimento agradará). Muito menos eu, que sou feliz e amo a vida.

Mas, depois de já ter conhecido algum sofrimento, físico e emocional, temo-o hoje muito menos que noutras idades temi.

Usufruamos do privilégio de viver, em toda a multiplicidade, enquanto nos for dado. Se nos couber alguma tristeza, vivâmo-la e sigamos em frente.
A vida, como a água, não gosta de paragens prolongadas. Estagna, cheira mal e torna-se perigosa.
Aceitemos a morte e o sofrimento que nos calhar e não conseguirmos evitar e portemo-nos à altura.
A vida é muito bela, mesmo perigosa, sofrida e com final indesejado.
Sei que permanecem inúmeros medos menores: medo de empobrecer, medo de ser rejeitado, mal amado, mal falado, mal julgado. Medo de ser feio, de ser gordo, medo de não saber quando era suposto saber, etc.
Além de, já no domínio do patológico, as inúmeras fobias (do escuro, de multidões, de ficar sozinho, de ficar fechado, de cães, de ser perseguido, de ser roubado ou enganado, etc.)
As fobias tratáveis, devem ser tratadas. Os medos menores, devem ser domesticados a ponto de não gerar infelicidades duradouras. A vida, além de bela é curta. Não vale a pena perder tempo com negatividades.
 


Tuesday, May 06, 2014

 

Respeito





O que escrevo é uma expressão aproximada do que penso.

O que penso é uma expressão imperfeita do que sinto.

O que sinto está sempre em mudança.



O que penso e escrevo é transitório e pode estar errado.

O que sinto é transitório mas é rigorosamenrte verdadeiro.

Sou eu.



Respeito somente o que sinto.

Respeito-me.

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