Tuesday, September 21, 2010

 

Direito, Justiça e sentido de Justiça

O Direito, esse emaranhado infindável de normas em mudança, conhecível mas nem sempre conhecido, não me impressiona por aí além. É um continente de convenções, resultado do labor de inúmeras cabeças pensantes ao longo dos anos, tentando intervir na realidade social, ordenando e afirmando poderes e submissões.

O Direito, posto em uso no caso concreto, pode levar à Justiça, pelo menos à justiça formal. Perante as divergências e conflitos de interesses, perante as violações de regras de convivência social, o Direito actua e afirma o que deve ser no caso concreto.

Mas, sendo a complexa vida social (em qualquer sociedade) uma teia inextrincável de injustiças e o Direito um vasto campo de discussão de argumentos e interpretações, só por acaso ou milagre verdadeira Justiça se alcança em cada caso concreto.

Com sorte e aproveitando os benefícios cicatrizantes da passagem do tempo, de que usa e abusa, a Justiça produz soluções sofríveis para os problemas que lhe são colocados.

Tanto o Direito como a Justiça deixaram de me impressionar. O meu desencanto é antigo e total.

Mas o que me levou a estudar Direito, além da sucessão de acasos que guia quase tudo na vida, foi o fascínio pelo sentido de justiça. É uma belíssima manifestação superior do espírito humano. Um misto de generosidade e imparcialidade. Um sentir o que é certo e a força de o afirmar, não importam os entraves ou as consequências.

Toda a gente tem, em bruto, o sentido de Justiça. Os advogados têm-no em grau mais alto. E os Juízes mais ainda. Por força de o exercerem, robustecem-no e conseguem muitas vezes, contra todas as probabilidades, produzir sentenças justas. Conhecê-las dá-me algum prazer intelectual, mas sobretudo mantem vivo em mim o encanto por essa qualidade superior do espírito humano: o sentido de justiça. E isso contribui para a minha fé no futuro da Humanidade, apesar do seu passado lamentável e monstruoso.

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Saturday, September 18, 2010

 

Presente e Eternidade



Em cada dia, melhor, em cada instante, o real tem uma extraordinária consistência. Podemos manipular elementos seus, integramo-los até em nós (oxigénio, água, alimentos...). Interagimos com outros, próximos e até distantes.
Mas no instante seguinte, esse real, tão consistente, já não existe. Foi substituído por outro real, semelhante mas diferente já.
É uma sucessão de momentos tão consistentes, de que não duvidamos que são reais, mas logo se esfumam para sempre no que chamamos passado.
A longa cadeia de momentos que enfileiramos através dos anos e das idades que vamos vivendo formam um percurso que é a nossa vida, a nossa história. Foi real um dia de cada vez e fez-se nada ou quase nada, logo em seguida. Persistem marcas de memória, distorcidas pelo próprio passar do tempo e pela reconstituição parcelar, contaminada por elementos estranhos e emoções vividas (elementos interiores).
Incerto dia, longe ou mais perto, um momento não terá sequência para cada um de nós. Será o fim do nosso mundo, definitivamente remetido para o passado, afastando-se cada vez mais da luz dos dias que hão existir para outros.

Mas, se a eternidade tem de ser o-tempo-todo, então em cada segmento dele, o que aí existiu alguma vez, pertence definitivamente à eternidade.
Existir, ainda que por um segmento breve de tempo, é passar a estar inscrito na eternidade para sempre.
Os que amámos amámo-los para sempre. Os que nos amaram amaram-nos para sempre. Foram essas as marcas indeléveis que alguma vez foram gravadas na eternidade e lá ficaram (ficarão) para sempre.
E só o amor verdadeiramente importa. O resto é paisagem e circunstância. Ruído e distração. Acertos e erros insconscientes e irrelevantes.

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