Tuesday, May 22, 2012

 

Novo mundo imperfeito

Agora Que meia vida já se foi. Agora Que o coração pode parar, a qualquer hora. Agora Que a vida lida e a vivida já não bastam. Agora Que sei tão bem que a morte ronda, caprichosa, cada ser vivo. Agora Que não existe mais futuro prometido. Agora É a hora de viver a hora, hora a hora. Amar o pouco que vier, se souber.

Thursday, May 10, 2012

 

O meu pardalito

Lá pelos meus onze anos, o meu pai deixou-me pegar na espingardinha de pressão de ar que havia lá por casa. Comecei a ir por aqui e por ali, sob as árvores, a tentar acertar nalgum passarito incauto. Mais para afinar a pontaria e poder orgulhar-me de ser talvez bom atirador. Durante algum tempo acertei ao lado e a passarada começou a evitar o meu quintal. Um belo dia acertei num pardalito descuidado que ficara a ver as vistas no alto da minha oliveira grande. Caíu, ferido de morte. Peguei-lhe, aconcheguei-o na mão e desejei muito que não morresse. Mas em breves instantes a sua pequena vida apagou-se. Chorei por ele. Pareceu-me totalmente absurdo ter roubado aquela vida, afinal para nada. Cavei um buraco no quintal, embrulhei-o num pedaço de tecido e enterrei-o. Nunca disse a ninguém. Nunca mais atirei em nenhum ser vivo. Ainda hoje, sei onde fica o “lugar do passarito”, sob o chão do casão. Passaram quarenta anos.

Tuesday, May 08, 2012

 

Un ano depois

Faz hoje um ano que quase morri. Mas cá estou, bastante bem, após ter dado uma volta completa ao sol, juntamente com todos os que apanharam um susto comigo e quiseram que sobrevivesse.

Wednesday, May 02, 2012

 

Valor e preço

Há coisas com valor, mas sem preço. Outras com valor e preço. Estas, com preço, pode saber-se quanto valem relativamente ao dinheiro. Mas não quanto valem realmente, pois isso varia com muitos fatores, económicos e psicológicos. As que têm valor mas sem preço, também não se sabe realmente quanto valem. Dependem de fatores psicológicos. O Direito, que tudo pretende regular, também valora a vida humana, como se de coisa com preço se tratasse. Nas indemnizações por morte, é atribuído um valor correspondente à perda do direito à vida – um preço, enfim. É uma tentativa bem intencionada de fazer alguma justiça, mas não deixa de ser um pouco grotesco. A vida, o bem mais valioso, na verdade vale tanto que o seu valor não pode medir-se verdadeiramente em relação ao dinheiro. Trata-se de uma ficção jurídica. Como muitas outras por todo o ordenamento jurídico. Mas se a vida humana, para uns vale infinitamente, para outros a vida humana (a dos outros, claro) pouco ou nada vale. Guerras, terrorismo e outras loucuras mostram que uns desvalorizam até ao zero o bem que é o mais precioso para outros (aqueles a quem é roubada).

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