Friday, November 19, 2010

 

Autoridade


Sempre tive uma desconfiança visceral por todas as formas de poder. Pessoal e institucional. Por temer o meu pai mais do que a conta, sobretudo na infância, ou por ser também essa a minha natureza, a verdade é que autoridade, poder, força e violência (física ou psicológica) ficaram para sempre associadas, misturadas quase como sinónimos.
Cresci intrigado pelos fenómenos do poder, nas suas variadíssimas formas. Talvez essa tenha sido uma das razões inconscientes da minha opção por estudar Direito: ajudar-me a conhecer melhor o “inimigo”.
Nesta fase da vida já aprendi a respeitar e a prezar a ordem (alguma ordem, sem podar demais a espontaneidade e a surpreendente fecundidade do acaso). E prezo bastante a autoridade que acompanha o saber e as elevadas qualidades humanas e éticas.
Mas continuo desconfiado de todas as formas de exercício da autoridade-poder, como sempre fui.
Toda a autoridade vem do exterior, impõe-se e logo fere ou pelo menos manipula. Logo, toda a autoridade que não seja livre e interiormente aceite é ilegítima. Impõe-se por ter força, não necessariamente razão e sobretudo sem legitimidade.
Reconheço-me visceralmente anarquista (rejeito a autoridade-poder, não a ordem. Prezo a ordem natural, por sistema altamente perturbada e desvirtuada pela ordem imposta pela autoridade-poder, conhecida como sociedade, o não-ser que domina os seres com mil tentáculos, visíveis e invisíveis).

Labels: , , ,


Friday, November 12, 2010

 

As dívidas dos grandes

Segundo números publicados na edição desta semana da Visão, eis as dívidas das seguintes entidades:

EDP – 16 246 milhões de euros
EDP-R (edp renováveis) – 2 915 milhões de euros
REN (rede eléctrica nacional) – 2 173 milhões de euros
(estas empresas somam 21 336 milhões de euros de dívida e provieram esencialmente do património público – foi o estado que formou a base sobre a qual se ergueram)
GALP energia – 2 865 milhões de euros
Jerónimo Martins (grupo Pingo Doce e Feira Nova) – 571,5 milhões de euros
Mota-Engil – 1 023 milhões de euros
Teixeira Duarte – 1105 milhões de euros
Grupo SONAE – 4 246 milhões de euros
Brisa – 2,9 milhões de euros
Zon Multimédia – 746,9 milhões de euros
Portucel - 603,9 milhões de euros
Semapa (papel) – 1 063 milhões de euros
Altri (papel) – 762 milhões de euros
Cimpor (cimentos) - 1 658 milhões de euros

---------------------------------------------------------------------
É difícil perceber porque vivem e crescem estes gigantes, convivendo tão bem com as suas dívidas impagáveis.
Os bancos emprestam e emprestam mais, acreditando que o serviço da dívida (juros e amortizações) será sempre cumprido (e enquanto outros bancos forem emprestando, assim é). Os Estados fazem de resto o mesmo, acumulando, quase todos, dívidas astronómicas. Os particulares e as PME, seguem o mesmo sistema de uso e abuso do endividamento. Faz parte das contradições intrínsecas do sistema capitalista esta selva de dívidas, por onde o dinheiro gira, fazendo girar as economias e gerando riqueza e satisfação de necessidades humanas, individuais e coletivas. E favorecendo a pesquisa e a inovação em todas as áreas. Mas tudo tem limites. E parece que níveis elevadíssimos de endividamento, a tocar nos limites da capacidade de cumprimento de todos estes agentes, é um jogo arriscadíssimo, que pode levar a desastres de dimensões homéricas.

Labels: , ,


 

Político e Poeta

O político é alguém com uma mente virada para a ação e para a intervenção no real. O poeta é alguém com uma mente contemplativa, cuja sensibilidade é avessa à intervenção no mundo e à manipulação dos outros.
Creio que se trata de mentes com modos de funcionamento opostos, nos antípodas um do outro. Um político está, na sua relação com o real, no oposto simétrico do poeta. Ora, como explicar que um dos principais candidatos à Presidência da República portuguesa seja o poeta Manuel Alegre? Trata-se verdadeiramente de um poeta ou de um político? A meu ver trata-se de um caso de conjugação de opostos, coisa muito mais comum do que possa supor-se. Concluo que se trata de um político menor e de um poeta menor. Caso fosse realmente maior numa das categorias, essa excluiria a outra.

Labels: , ,


Monday, November 08, 2010

 

O segredo do mal

Ando a ler “Os segredos do apocalipse” de Victor Mendanha. Apesar de o crédito que dou a este tipo de fantasias ser pequeno, as congeminações sobre estes temas esotéricos não deixam de ter o seu interesse porque constituem estímulos novos para reenquadrar temas e leituras antigas.
Aqui, entre outras coisas, defende-se a existência de duas humanidades: a dos descendentes de Caim – os caimitas – filhos de Samael (o Diabo) e de Eva e os descendentes de Seth, filho de Adão e Eva (já que o prematuramente falecido Abel não deixou descendentes).
Os descendentes de Seth constituiríam a humanidade verdadeiramente humana enquanto a dos caimitas seria meio-humana/meio-demoníaca (criadora de tudo o que há de destruidor e de desumano – guerras, roubos, crimes, exploração e maus tratos, promiscuidade sexual, etc).
É uma perspectiva curiosa para explicar, metaforicamente, a persistência do mal ao longo de toda a história da humanidade.
Tenho uma objeção: ao longo de milhares de anos, os descendentes de uma e outra linhagem cruzaram genes, possibilitando uma mistura incindível, que fez de todo o ser humano, sem exceção, descendente de ambas as linhagens. O mal está presente em toda a mente humana (e a meu ver em nenhum outro lugar da criação) e persistirá enquanto ela existir.

Labels: , , , , , ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?