Thursday, March 26, 2015

 

A estrada





Um belo dia, 50 anos atrás, pelos meus cinco anos, fui pelos campos próximos do monte da Bica Nova, com os trabalhadores, no reboque do trator agrícola (Massey-Ferguson CL-29-32, vermelho, novinho) conduzido como sempre pelo meu pai.

Enquanto eles trabalhavam, eu fui atrás da minha curiosidade infantil, por entre árvores e arbustos. Ao regressar à estrada de terra, olhei em todas as direções, escutei com atenção e não vi nem ouvi vivalma.

Com receio, resolvi meter os pés a caminho de regresso ao monte.

Adiante, a estrada bifurcava-se. Duas estradas idênticas, afastando-se gradualmente uma da outra. Fiquei por instantes parado a pensar e acabei por seguir pela estrada da direita, num misto de medo e esperança.

Pouco depois, ouço chamar por mim. Na outra estrada, o trator estava parado e o meu pai que me vira a caminhar pela estrada errada, chamava-me. A alegria do reencontro depressa apagou o medo.

Daquela vez a minha escolha errada foi corrigida a tempo. Mas ao longo da vida, feita de tantas escolhas dilemáticas, quantas vezes terei errado e não esteve lá ninguém para me corrigir? Acredito que muitas.

Assim sigo sem mestre, por entre acertos e erros, pelas estradas da vida, escrevendo às cegas uma biografia concreta, por entre inúmeras possíveis.



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