Wednesday, May 29, 2019

 

Escuridão

    
Vês a árvore.

Acreditas ver a árvore.

Não a vês toda.

Há nela um lado que vive

Na escuridão.
 
 

O que não vês,

As suas raízes

Vivem e dão vida

Alimentam e suportam,

Na escuridão.



A árvore

Um dia foi sementinha.

Pode viver, ver a luz

Porque a sementinha se escondeu, cresceu

Na escuridão.
 
 

Vês a casa, a ponte a estrada

E todas as coisas que os humanos fazem.

Mas ignoras que, antes de feitas,

Nasceram nas mentes,

Na escuridão.
 
 

Vês homens, mulheres, crianças

Todas diferentes por fora.

Mas não vês o que pensam e temem

O que sonham e desejam

Na escuridão.
 
 

Vês porque vês e há luz,

Porque há Sol, Lua, estrelas.

Mas não vês, porém está lá

Uma força imensa que os suporta,

Na escuridão.



E tu, que antes de nascer

Viveste nove meses,

Cresceste, seguro e feliz

Aonde?

Na escuridão.
 
 

Quando as luzes todas se apagarem

Para ti, um dia

Regressarás a um lugar que é teu

(Sempre foi)

Na escuridão.



Tuesday, May 21, 2019

 

Inocentes ou Culpados





Inocentes ou culpados
À morte somos todos
Condenados.


Enquanto aguardamos
O capricho da Besta Fera,
Às escuras caminhamos.

Friday, May 17, 2019

 

Ioga


                  Aspetos que absorvi e estou incorporando, influenciado pelo IOGA:

Coluna - axis mundi, eixo do (meu) mundo. Deve estar sempre vertical, direita, firme (quer sentado quer de pé, e horizontalmente direita, quando deitado).

Simetria – movimentos corporais deve procurar simetrias, o que se faz para um lado, deve fazer para o lado oposto; o que se faz para cima, deve fazer-se para baixo.

Alongamento - movimentos ou posturas breves, devem explorar ser forçar, as possibilidades de alongamento gradual.

Tensão média – nos movimentos ou posturas deve ser usada uma tensão média nem excessiva, nem lassa.

Suavidade – movimentos lentos e suaves estão em sintonia com a passagem do tempo (a nossa passagem pelo tempo deve ser de harmonia com a sua suave passagem).

Doçura – é a atitude que se deve generalizar a tudo e todos, pessoas, animais, objetos
É a forma mais básica de amor, amor à existência, de que sou minúscula partícula.

Autoconsciência – do corpo, da mente, das emoções e da energia vital. O treino básico começa com a autoconsciência do corpo (Ioga básico, com respiração, posturas, movimentos e sons) e evolui para os níveis seguintes, gradualmente, num contínuo desabrochar, que se dirige a um estado superior de consciência de mim mesmo e da existência.











Wednesday, May 15, 2019

 

Relativismo



No mundo material tudo tem dimensão e limites. Essas dimensões são relativas. Relativamente a mim, os micro-organismos que me habitam são ínfimos, de modo que posso ignorar a sua existência (exceto quando me causam doenças). Em relação a eles, eu sou infinitamente grande, inconcebivelmente grande, logo eles simplesmente ignoram a minha existência.

Mas um micróbio é ainda infinitamente grande relativamente aos átomos que o compõem e cada átomo um mundo relativamente às ínfimas partículas que o compõem, cuja descoberta científica ainda vai no adro.

Entretanto, eu sou ínfimo relativamente ao planeta que habito. Este é ínfimo em relação à Via Láctea, esta em relação ao Universo (e este, quem sabe, ínfima parte do Multiverso – composto infinito de Universos).

Além das dimensões reais, de uma alucinante diversidade, existem as dimensões aparentes, as que decorrem da proximidade ou afastamento relativamente ao observador. Quanto mais perto, maior, quanto mais longe menor (aparentemente).

No plano mental, talvez ocorra algo semelhante: o que consideramos próximo parece sempre maior e o que consideramos longe, parece sempre menor.

No plano emocional, idem. O que toca nos nossos ente-queridos afeta as nossas emoções de forma intensa; já o que afeta outros, meros conhecidos, afeta menos e o que afeta estranhos, do outro lado do mundo, mal afeta ou nem isso.

O mundo moderno, baralhou bastante a nossa noção instintiva e ancestral de proximidade e distância. O que era longe fez-se perto, o que acontece do outro lado do mundo pode ser visto e ouvido em direto, em qualquer outra parte do mundo, entrando pela nossa mente a toda a hora sem pedir licença. Além de podermos comunicar com outrem, ignorando a distância física. Tudo isto nos afeta e modifica. A soma de toda a informação que hoje nos chega e entra na nossa memória/armazém, é infinitamente maior do que a que chegava às mentes dos nossos antepassados. Isto vai transformar o ser humano, gradualmente, de forma relevante e alcance ainda difícil de avaliar. Um novo tipo de ser humano e um novo mundo estão a surgir, apoiados nas tecnologias em alucinante evolução e na sobrecarga de estímulos mentais e informação.

Continua a ser necessário, porém, distinguir as coisas e os factos, tanto sob o ponto de vista da sua dimensão real como da sua dimensão relativa (isto é, relativamente a nós, ao ponto onde nos encontramos). Precisamos ter uma visão clara e um equilíbrio que nos permita viver de forma saudável e com alegria a nossa vida concreta, o nosso único bem verdadeiro (ainda que volátil).


















Friday, May 10, 2019

 

A Eternidade



Tal como Deus, também a sua obra deve ser infinita, ilimitada, eterna. Se assim for, tudo o que o presente ilumina é apenas uma ínfima parte da eternidade. As restantes estarão algures, no que chamamos passado ou no futuro. Mas no nosso nível de consciência, onde só cabem realidades ou conceitos finitos, nem Deus, nem universos infinitos nem eternidades cabem (porque não poderiam caber. Como caberia o infinitamente grande no infinitamente pequeno?).

Mas se, tal como cada átomo é eterno, cada momento, com tudo e todos que nele se contêm, também for eterno então nós, os que agora existimos, tal como todos os que antes existiram e todos os que virão a existir, fazemos parte da eternidade (ou de Deus).

No nosso nível limitado de consciência isto pode parecer um absurdo, mas quem sabe seja real e mesmo compreensível noutros níveis mais apurados de consciência? O nosso nível de consciência é o adequado para viver um tempo limitado e uma vida limitada. Mas a complexidade “daquilo” de que somos parte é infinitamente maior do que o que está ao nosso alcance compreender.

Ou então isso é apenas uma fantasia que a minha mente desenhou. E afinal tudo muda, nada é eterno, nada vale a pena, tudo e todos se vão, a seu tempo, para o mar do esquecimento, de onde jamais regressarão.

Não sabemos. Não vale a pena fingir que sabemos. Ou adotar crenças alheias.

Prefiro manter o espírito aberto ao que vier desaguar perante o meu olhar da consciência. Esta vida, absolutamente extraordinária, existe e eu faço parte dela. Isto só por si já é assombroso. Pode ser que outras “coisas” tão ou mais assombrosas ainda se venham a revelar ao meu entendimento.

Senão, só o ter percebido a imensa maravilha de estar vivo – participar de uma “coisa” tão deslumbrante – já é uma dádiva incomensurável.

Gratidão.

Tuesday, May 07, 2019

 

Os carros


Viver é um ensaio único, em que não há segundas chances de fazer melhor. É um rascunho onde pululam erros e gaffes, que podem ser mais ou menos graves e por vezes motivo de vergonha ou inútil arrependimento.

Os erros devem reconhecer-se, tomar-se como lições e as suas consequências devem assumir-se sempre, por muito que custe.

Entre os muitos erros que fui fazendo, os mais comuns foram os de comprar carros quando não precisava, pois o que tinha servia bem. Comprei muitos, novos e usados, sem precisar. Só porque me seduzia mudar de viatura.

Essa tentação pode ainda assaltar-me de vez enquando (temos tendência a repetir os mesmos erros, uma e outra vez) mas espero ter aprendido com esses erros (que me custaram muito dinheiro). Outro carro? Se preciso e posso, compro. Se não, deixo estar como está.

 

Thursday, May 02, 2019

 

Navegar






O meu pequeno barco navega como pode. O vento e as correntes levam-no. Procuro evitar os escolhos e os barcos maiores, que poderiam afundar-me. Mas também os menores, a quem poderia causar dano. Todos vamos para o mar, onde desaguaremos, tarde ou cedo. Mas, se algo importa, não é tanto o destino certo, mas sim o modo como se navega.


Do meu pequeno barco aceno e sorrio a quem passa e desejo sinceramente que faça uma boa viagem. Mesmo sabendo que muitos, na pressa de chegar, irão abalroando outros pelo caminho, e na vaidade de serem grandes e belos, irão olhar com desdém o meu pequeno barco. Que importa?



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