Saturday, December 07, 2019

 

Talvez




1. Talvez o passado e o presente existam desde sempre e para sempre. Duas eternidades, infinitas, aparentemente inexistentes (uma porque não existe, outra porque ainda não existe) mas que se tocam num lugar do espaço/tempo, criando uma superfície poderosamente iluminada e energizada, a que chamamos realidade - o momento presente. Afinal, este talvez não seja mais que a passagem forçada do futuro para o passado, num ponto incandescente. Um fogo-fátuo que tomamos por única e verdadeira luz na escuridão imensa do nosso desconhecimento. Mas que pouco ou nada é, senão o anúncio e a prova de algo maior, verdadeiro e infinito.

Se assim for, cada um de nós, por fazer parte, é também eterno, está inscrito nessa ampla realidade que excede infinitamente o momento presente em que nos achamos.


2. Talvez a matéria seja apenas energia em formas densas e o espírito energia em formas subtis, tão subtis que, no seu nível, ela é já imune às leis (físicas) do espaço/tempo.

Todas as formas de energia podem interagir entre si, isto é bem sabido pela ciência e sobejamente aproveitado para o fabuloso progresso tecnológico que já alcançámos.

Mas talvez não reparemos que grande parte do nosso conhecimento e domínio sobre a matéria proveio do espírito, através da mente humana, do lado imaterial da existência (a inteligência e a criatividade, bem como a curiosidade e a força de vontade não são coisas palpáveis, mas estão na base do domínio de saberes que permitiram modificar a (nossa) realidade. Como poderosas emanações da energia do espírito, do domínio do imaterial.



3. Talvez a mente humana seja o interface, a superfície de contacto entre o lado material (denso) da energia vital e a lado imaterial (espiritual, subtil) da energia vital do Universo.

E se todas as energias se podem entrecruzar e influenciar, talvez a memória de uma vida não esteja apenas armazenada no cérebro humano – memória biológica perecível – até ao mais ínfimo pormenor (como sabemos que está, embora usualmente inacessível por parte da mente consciente).

Talvez, simultaneamente as memórias de uma vida estejam a ser gravadas, em back-up imperecível, no plano espiritual, já que a mente é o maravilhoso interface entre ambos.

Ao terminar a vida, com a morte cerebral, a memória em suporte material perde-se. Mas talvez o nosso lado imaterial, paralelo, subtil, imaterial (a alma?), leve consigo o duplicado imperecível dela para outro plano da existência.

4. Talvez cada vida seja mais uma folha escrita a acrescentar a um livro imenso, onde folhas anteriores aguardam por cada nova história, para acrescentar às anteriores. Talvez cada alma seja uma colecionadora de vidas ou seja de histórias, saberes, memórias, sentimentos e sensações. Cada vida, uma nova história, um acréscimo ao seu (nosso) património espiritual.

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