Friday, January 29, 2010

 

Timidez

Por temperamento, por uma história de vida dominada, sobretudo na infância, pelo autoritarismo paterno, pela miopia que me obrigou desde criança a usar óculos de lentes grossas e a limitar-me nalgumas circunstâncias, como a prática de desportos ou nos namoricos – talvez por todos estes factores conjugados – o certo é que sou, assumidamente, um tímido.
Não que isso seja necessariamente mau. É certo que torna mais difícil para mim, só por ter me expor, as pequenas coisas do quotidiano, a nível pessoal ou profissional (e a maior parte do que vivemos é um amontoado de pequenas coisas).
Mas foi e ainda é um forte contributo para o prazer que sempre tive de estar a sós comigo (ainda que com gente por perto) e responsável pelo gosto pela leitura e pela atenção aos outros, que me ajudaram a ter um percurso escolar bem sucedido.
Consegui domesticar a minha timidez, tornando-me razoavelmente aberto e comunicativo e trabalhando sempre em áreas que me obrigam a falar para públicos (o terror maior dos tímidos).
Mas não consigo vencer a enorme timidez que me ataca na proximidade de pessoas belas, sobretudo mulheres. Sinto-me o patinho feio perante o explendor que a beleza humana irradia. A beleza é em si mesma um valor, ainda que as suas manifestações sejam frágeis e efémeras. Um valor impõe-se e basta-se a si mesmo. E a essas pessoas foi-lhes oferecido (e a mim não...).
Felizmente para mim, a imensa maioria das pessoas é apenas comum, nem especialmente bela, nem especialmente feia. E é com essa mediania que tem de fazer uma vida igualmente mediana. Como a minha.

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Liberdade

A liberdade sempre foi uma aspiração humana. Também pudera, todas as sociedades humanas, por necessidade ou mesmo sem necessidade, trataram de educá-lo, podá-lo, desde muito cedo e por toda a sua vida.
Nas sociedades mais repressivas a falta de liberdade básicas (expressão, associação, movimentação, etc.) pode gerar um clima geral de privação quase dolorosa de algo vital.
Mas não nos iludamos, a repressão do indivíduo está e sempre esteve presente em todas as sociedades, desde as comunidades primitivas. É só uma questão de grau, digamos.
Tal como a maioria dos conceitos abstractos é difícil estabelecer uma definição consensual.
O meu conceito de liberdade, subdivide-se em liberdade exterior e liberdade interior.
A liberdade exterior, a que pode e deve existir na nossa interacção com os outros e com o mundo, significa um modo de estar em que há efectiva possibilidade de escolha, assumindo-se as consequências, que não podem ser desproporcionadas, sob pena de tolherem a liberdade. Está limitada naturalmente, desde logo, pela liberdade dos outros e pelo forte constrangimento das instituições.
A liberdade interior é o estado de espírito que me permite igualmente escolher agora, apesar das minhas escolhas anteriores. Posso escolher hoje o que antes regeitei e vice versa, sem a preocupação da coerência. Posso ser contradidório sem culpa (aliás, contradidória por excelência é também a natureza: desde sempre a criar e a destruir o que antes criou). Pensar hoje o oposto de ontem, se me aprouver, porque o hoje está sempre de mão dada com a vida e o ontem de mão dada com a morte. E eu sigo de mão dada com a vida (enquanto puder ser). Esta liberdade é tendencialmente ilimitada. Só eu a posso limitar, se quiser.

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Friday, January 22, 2010

 

Os outros

Os outros:
Espelhos distorcidos
Onde nos vemos reflectidos.

Mas sabemos:
Somos nós
E não somos nós.

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Wednesday, January 20, 2010

 

A injustiça social

As sociedades humanas, desde as primitivas às modernas, são sistemas organizacionais injustos.
Geralmente estes sistemas estão em equilíbrio e mudam de forma lenta. Por vezes, dão-se mudanças bruscas, quase sempre violentas – guerras, revoluções, etc. – e gradualmente instala-se um novo sistema de equilíbrio de novas (ou velhas) injustiças.
Corrigir uma injustiça é inevitavelmente gerar um desequilíbrio, criador de novas injustiças algures.
Isto é assim. Admiro-me que as pessoas ainda acreditem que, mudando isto ou aquilo ou este ou aquele líder, ocorrerá finalmente uma sociedade mais justa. Isso é de uma enorme ingenuidade.
O máximo que acontece, nos períodos de paz, é a substituição de algumas pequenas injustiças por outras. E nos tempos de guerra ou revolução, a turbulência é tal que as pequenas injustiças, durante a mudança, dão lugar a injustiças colossais – a morte e sofrimento de inocentes em larga escala – e depois, o novo sistema organizacional institui novas injustiças. É fatal como o destino.
Confiar nalguns homens ou nalguns idéias para acabar com a injustiça social, chegando a lutar e morrer por eles é estupidez pura, mascarada de idealismo, heroismo ou seja do que for.
Nada vale uma gota de sangue inocente derramado.

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Tuesday, January 19, 2010

 

2010

2010

Chegados a 2010, a vida segue o seu caminho, por vezes tão assustador. Como no Haiti.

É o ano em se comemora um século de República Portuguesa, o que não me diz muito. Se fossem nove séculos de monarquia também pouco me aquecia. São externalidades frias, que poderão entusiasmar outros. A mim, passam ao lado.

Se chegar a 12 de Junho farei meio século de vida. Esta é uma conta redonda que me alegra mais. É um marco curioso.

Claro que a vida continua sempre, imperturbável, os seus estranhos caminhos. Ninguém sabe bem por onde vai passar, embora todos saibamos que para cada um terminará. O que é triste mas incontornável.

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