Tuesday, April 29, 2014

 

Modos






1.
Usamos três modos básicos de relacionamento com os outros:

Intimidação, submissão e sedução (tal como muitos outros animais).

Crescemos a submeter-nos e a seduzir. Conforme vamos

sentindo força e autoconfiança, aprendemos a intimidar.

A nossa natureza individual e a história particular dos nossos

relacionamentos, primeiro na família, depois na escola e na

sociedade, vão forjando as nossas preferências mais em uso,

relativamente a cada um dos modos.

Há quem adore intimidar e use este modo preferencialmente.

Não teme os conflitos. Parece até gostar deles. Reforçam a sua

autoconfiança. Porém, nalguns casos, mesmo este indivíduo

preferirá submeter-se ou, noutros casos, seduzir.

O tipo autoritário usa de preferência a intimidação em relação

aos que considera inferiores ou estão sob o seu poder. E será um

excelente submisso e obediente servidor dos que acha acima de si.

Preferem ser temidos a ser amados.

Há quem prefira submeter-se, porque teme os conflitos e dessa

forma consegue evitar a maioria deles.

Há quem use preferencialmente a sedução. Não teme os

conflitos mas prefere evitá-os. Crê que tratando os outros bem,

queima etapas e consegue chegar mais depressa ao que interessa.

Com benefício para todos e sem desperdício de energias.

Preferem ser apreciados do que temidos.

Em sociedades em que o poder e a exibição, real ou simbólica,

do poder são tão valorizados como a nossa (e a maioria delas), os

que usam a sedução como modo preferencial de relacionamento

são confundidos frequentemente com os submissos (a sua simpatia

é lida como fraqueza). Como estes, têm a vantagem de evitar

conflitos, mas são muitas vezes vítimas de abusos por não serem

temidos. É que existe muita gente disposta a aproveitar dos que

acha mais fracos. Gente que só se comporta na base do medo. E se

não tiver medo, não tem também vergonha de se portar mal.

Por isso, o poder (económico, político, prestígio social, fama, etc.)

em suas inúmeras formas e símbolos, é tão procurado e

apreciado pelo género humano. É que com poder, real ou

simbólico, pode-se intimidar, submeter ou seduzir outrem, ao sabor dos caprichos seu detentor.

A intimidação é um modo masculino. A submissão e a sedução são

os modos femininos. Em cada ser humano, independentemente do

sexo, coexistem todas elas, em doses peculiares.


 
 


 
2. O meu pai é do tipo autoritário. Especialista em intimidar.

Eu sou do tipo sedutor. Talvez um submisso que evoluiu para sedutor.

Tive de gerar o tipo submisso por razões de sobrevivência num ambiente familiar dominado por um autoritário. Ao crescer, não desenvolvi o modo intimidatório, replicando o meu pai, mas passei ao modo sedutor. Deixei de temer os outros, mas achei pouco inteligente passar a desafiá-los ou a menorizá-los. Não tiro nenhum prazer em ser temido, logo não aprendi a intimidar.

Gosto de fazer-me entender (por isso procurei aprender a comunicar o melhor possível, nisso o Direito ajudou) e de conquistar a adesão voluntária dos outros aos meus propósitos, que considero saudáveis e bem intencionados. Mas se não consigo, não levo a mal. Aceito que não me entendam ou não me atendam. Ou simplesmente não gostem de mim sem razão. Tudo direitos que lhes reconheço de boa mente.

3 - Existem profissões mais adequadas para cada um dos tipos:
Intimidadores:
Ditadores, inspetores, guardas, polícias, militares, juízes, delegados, advogados, professores, etc.
Sedutores:
Artistas em geral (poetas, escritores, atores, cantores, apresentadores) jornalistas, advogados, professores, políticos, comerciantes, etc.
Submissos:
Em geral, os trabalhadores por conta de outrem.
 



Friday, April 25, 2014

 

Amizade

                                      


Bolinhas e Pequeno. Como é bela a amizade!
                                 

Thursday, April 24, 2014

 

Quadras populares



Há uma velha tradição portuguesa, muito presente na cultura popular alentejana: as quadras populares.
O próprio Fernando Pessoa escreveu muitas.
Na minha idade jovem também escrevi algumas: eis alguns exemplos, achados outro dia numa caixa, na casa paterna:






Monday, April 21, 2014

 

25 de abril, Dia da Liberdade







                                          Por mais que a queiram prender
                                          Acenando com o medo,
                                          Liberdade é sempre um bem,
                                          P'ra ser livre nunca é cedo.


Liberdade

Tem raízes na nossa natureza animal e desabrocha na nossa mente como uma necessidade vital.
Qualquer ser vivo, se o prenderem, fica obcecado só com isto: recuperar a sua liberdade.
Por isso, um dos castigos que os homens impuseram uns aos outros sempre foi retirar-lhes a liberdade – a pena de prisão continua muito popular no mundo.
Tal como o oxigénio, só se sente a sua falta, verdadeiramente, quando escasseia.

Os políticos de todos os tempos têm entusiasmado os povos com promessas de liberdade. Acontece que o exercício do poder é contrário à liberdade, por natureza. E o político que promete liberdade, quando tiver o poder, não dará mais liberdade, mas menos. Inventará novas formas de cercear as liberdades, mesmo que continue a fazer o discurso libertário, que não passará de retórica.

Ninguém pode ser realmente livre, dada a nossa condição de seres dominados por necessidades sempre renovadas e obrigados a lutar contra circunstâncias que nos ultrapassam.
Mas alguma liberdade podia ser respeitada a cada um pelas instituições políticas, com o Estado à cabeça. Infelizmente não é assim: O controle é cada vez maior, facilitado pelos meios informáticos e as telecomunicações.
O cidadão moderno é cada vez menos livre e isso vai agravar-se, dada a natureza do Estado (avidez insaciável pelo controle do cidadão) e os meios cada vez mais poderosos de que dispõe.

Mesmo assim, é sempre simpático comemorar o Dia da Liberdade – o 25 de Abril.
Comemoremos, não o bem que temos, mas o bem que desejamos.
Viva a liberdade!

Quem assistiu à Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974) jamais esquecerá a bebedeira de liberdade que o povo então viveu. A alegria indescritível e o entusiasmo daqueles meses por um presente intenso e a promessa de um futuro melhor serão sempre recordados com uma funda emoção. Sou um desses felizardos (tinha 13 anos).


 

A vida



A vida não é um parque de diversões.
Um parque de diversões não é a vida.

Thursday, April 17, 2014

 

Nunca somos só o que somos



O que somos é a sobreposição dos inúmeros que fomos.

Cada tempo novo acrescenta em nós cambiantes a esse ser complexo e múltiplo. 

Parecemos muitos. E somos.

Parecemos um. E somos.

Um mistério que muda, dentro de outro mistério maior, que é a vida.



Wednesday, April 16, 2014

 

Tudo



Tudo o que é importante, carrego na memória.
Se não me lembro é porque não é importante.

A memória tem raízes mais fundas do que supõem os médicos.
As suas raízes estão fixadas, firmes, no coração.



 

As leis, a meu ver




A meu ver,

Todas as leis deveriam, sob pena de inexistência, ser:

1. Acessíveis e compreensíveis pelo cidadão médio.

2. Aceites pela maioria dos cidadãos, representada pelo Parlamento (as leis do Governo passariam obrigatoriamente pela aprovação no Parlamento). O Governo seria formado por gente saída de entre os deputados eleitos e por eles escolhida ou demitida, se não correspondesse à expectativa.

3. Os deputados deveriam ser eleitos de forma nominal, independentemente de pertencerem a este ou àquele partido ou a nenhum. Todo o cidadão, maior, que pretendesse, poderia concorrer ao Parlamento, bastando ter o apoio de 5 mil subscritores da sua candidatura. Os 180 mais votados seriam eleitos para mandatos de cinco anos, não renováveis (porque há sempre muito cidadão na fila, pela sua vez).

A realidade é outra:
1. Milhões de leis, desconhecidas e incompreensíveis ou altamente equívocas, mesmo para juristas.
2. Parlamento e Governo escolhidos pelas cúpulas partidárias, por gente e entre gente altamente comprometida com o poder económico, o mundo dos negócios, os grandes escritórios de advocacia, o sistema financeiro, etc. e não pelo mérito pessoal e profissional e dedicação ou sequer interesse pelo bem estar do seu povo.

Por isso a Política e o Direito, seu instrumento privilegiado, são uma completa decepção (para mim).


Sunday, April 13, 2014

 

Elis Regina, Águas de Março (+lista de reprodução)



 

Um dia feliz

         Um dia feliz em Porto Covo, com a minha Conceição (primavera 2013).


Friday, April 11, 2014

 

Por que escolhemos ser infelizes?

Por que escolhemos ser infelizes?

 

"Ainda Bem" Marisa Monte - Clipe Oficial (+lista de reprodução)



Wednesday, April 09, 2014

 

Acamado



Estamos a aprender a cuidar de um acamado (o meu pai).
Camas articuladas, fraldas e colchões especiais, sondas e quejandos, são já tudo assuntos que dominamos. Técnicas de mobilização do doente, higiene e alimentação também. Acho que estamos a ir bem. Mas as dores nas costas, são o diabo. Vivem agora connosco e só nos largam durante o sono.

Monday, April 07, 2014

 

Portugal




Talvez Portugal esteja a morrer. O que acrescenta pouco à circunstância de que todos temos de morrer e há que aceitá-lo.

A profunda crise em que Portugal se encontra e a descida gradual e imparável que iniciámos para níveis de pobreza inimagináveis, parecem uma inevitabilidade.

Menos gente a nascer, mais gente a envelhecer (cada vez mais gente a chegar a idades avançadas). Necessidades a crescer a velocidade superior ao aumento da riqueza. Emigração em massa, sobretudo de jovens. Dependência de ajuda financeira externa. Dependência alimentar e de toda a ordem.

Um futuro de pobreza, decadência, degradação das condições de vida, doença e morte, esperam cada português residente, mas também o país como um todo.

Um mundo que fenece é também o anúncio de novos mundos.

Outros modos de vida e outros povos virão ocupar o território outrora Portugal.

Não estarei cá para ver, mas a antecipação disso não me traz qualquer mágoa ou estranheza. Aceito como parte do desenrolar dos processos naturais e históricos.

Não partilho da ilusão de que o meu país, o meu povo, a minha língua materna, são superiores ou melhores que quaisquer outros. Sei que para cada um isso parece uma verdade inquestionável. Não para mim.

Por isso, se em lugar de Portugal e dos portugueses houver outros, isso não será pior nem melhor do que manter-se o meu país e o meu povo. Será apenas diverso.

Em relação à língua a extinção não se coloca, graças à existência de jovens países de expressão portuguesa, em crescimento e cheios de futuro, sobretudo o Brasil, Angola e Moçambique.



Thursday, April 03, 2014

 

Onde estás, meu dono?





Bolinhas, o companheiro do meu pai nestes anos, ficou só, a viver no casão, tomando conta da casa, procurando por ele pela aldeia e pelos campos.
Aqui, descansando na horta. Onde estás, meu dono?


 

Onde estás, meu pai?




Aquele que durante mais de meio século foi o meu melhor amigo e protetor, a minha sombra tutelar, por vezes talvez até demais, sumiu. O meu pai não está aqui, nem está no Além. Vive, mas não sabe quase nada a respeito de viver. Olha, escuta, mexe um bocado, não fala e sobretudo parece não entender o que se passa. Duvido que me conheça. Mas quem sabe o que vai naquela cabecita desregulada?

A sua memória e personalidade estão perdidas ou ocultas algures no seu cérebro desencontrabiquadrilhado  pelo avc?

Afinal, meu pai, onde estás? Se não souberes, não faz mal. Tu podes não saber, mas eu sei que estás comigo, como sempre. E estando comigo e com a tua nora protetora, estás bem.

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