Tuesday, March 20, 2007

 

Ser feliz é simples

Ser feliz é simples:

É só desligar a mente feita;

Deixar ligada a mente por fazer.


Ser amigo de si, irmão de si.

Ser amigo do outro, irmão do outro.

Irmão do Sol, do vento e das estrelas.


Ser irmão da água, do alimento.

Irmão dos céus, irmão das aves.

Irmão da chuva e das tempestades.


Irmão do mar e das suas profundezas.

Irmão dos peixes e da sua estranha vida aquática.

Irmão das montanhas e das planícies.


Irmão de todos os animais, co-habitantes deste mundo.

Irmão das pedras, da luz e da escuridão.

Irmão da flor, do insecto e do néctar.


Irmão dos sons e do silêncio.

Irmão das cores, dos cheiros e dos sabores.

Irmão das palavras, mesmo as incompreensíveis.


Permanecer puro e pronto

P’ra partir sem olhar para trás;

Em cada instante o último e o primeiro.


E sorrir, sorrir sempre, como Buda.

Morrer a sorrir, de preferência.

Aprender a ser Benevolência.



Sunday, March 18, 2007

 

ora...

Depois de duas tentativas falhadas de mostrar os canitos do meu pai, desisto...

Friday, March 09, 2007

 

O simbolismo da cruz

A prisão espaço/tempo?


A condição humana? Talvez.


A condição humana casa animalidade – a linha horizontal – com humanidade – a linha vertical.


Somos animais humanos.


Podemos viver perto da linha da animalidade – viver, agir e relacionar-nos de forma bastante semelhante aos outros animais. Há nisso uma forma de neutralidade moral, mesmo na crueza das atitudes.


Mas como somos animais humanos, temos a faculdade de subir ou descer, através da consciência pela linha vertical que é exclusivo nosso.


Assim, somos capazes de comportamentos conscientes dotados de significado moral. Se subimos, somos capazes de humanizar até os ambientes e situações mais inóspitas, difíceis ou sofridas (humanizaríamos até o Inferno). Se descemos, somos capazes de ir bastante abaixo da condição animal, sendo capazes de desumanizar e destruir conscientemente tudo, até a vida (transformaríamos até o Paraíso no Inferno).


A faculdade de subir ou descer foi-nos dada – chama-se livre arbítrio.


Cada um de nós é responsável pela maneira como a usa.


Observo no entanto que, tal como na Natureza, é mais fácil descer do que subir.


Mas, tirando casos limite, a generalidade das pessoas pode a todo o momento inverter o sentido da sua deslocação no eixo da humanidade.


Wednesday, March 07, 2007

 

E agora também o Estado


“As forças de uma sociedade capitalista, se não forem controladas, tendem a tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres”J. Nehru



1. Com o progresso científico e tecnológico que as sociedades mais avançadas estão a viver, a criação de riqueza está a aumentar. Mas não para todos. Os ricos e poderosos, montados na grande máquina geradora de fortuna, acumulam cada vez mais enquanto a generalidade das pessoas aperta o cinto e se endivida à banca.



2. O sistema capitalista produz agora em escala maior o que sempre foi sua vocação – a concentração de riqueza nas mãos de poucos e migalhas para os restantes.


Já não são precisas grandes massas de população para trabalhar – as máquinas fazem-no melhor, não adoecem, não reclamam nem fazem greve – substituem-se sem um queixume por outras ainda mais eficientes.


São precisas apenas as pessoas mais eficientes – com elevada formação e na força máxima da sua capacidade de trabalho, entre os 25 e os 50 anos.


Para isso, as empresas precisam poder contratar e despedir com grande flexibilidade. Querem só os melhores, os mais rentáveis e apenas enquanto o forem. Os outros que se arranjem, que vão bater à porta do Estado.



3. O funcionalismo público tem tido até aqui alguma protecção contra o despedimento. A chamada vinculação à função pública. Tem sido um garante de alguma segurança e estabilidade de pessoas e famílias e da sociedade.


O Estado propõe-se agora acabar com tal regime, simplificando o despedimento de funcionários, alegadamente os que não passem, dois anos seguidos, no crivo da avaliação de desempenho (na verdade também ou sobretudo os mais rebeldes e menos lambe-botas das chefias).



4. Por razões de eficiência e rentabilidade (as mesmas do sector privado) o Estado também quer admitir apenas os melhores e apenas enquanto o forem e despedir com grande facilidade os que já não lhe interessam. Quando a idade, a doença ou a incapacidade de aprender novas funções se manifestar, então borda fora com eles. Já não bastava a selecção de pessoas com base em critérios de simpatia política, conveniência pessoal ou mera cunha.



5. Parecendo um quadro racional e adequado do ponto de vista da gestão de recursos humanos, a pergunta que deixo é: Não havendo lugar para os menos capazes (ou por serem menos dotados ou em razão de idade, doença, acidente ou deficiência) no sector privado e nem no sector público, o que fazer com eles?



6. Vai o Estado assegurar a todos os que não têm lugar neste mercado de trabalho exigente, os seus direitos básicos de existência através de subsídios de desemprego, rendimento mínimo garantido ou outras formas adequadas e suficientes? Ou vai ficar à espera do empobrecimento generalizado de vastas camadas da população, até aos limites do insustentável?



7. Se o Estado pretende demitir-se das suas funções e governar na lógica empresarial – a eficiência e a rentabilidade acima das pessoas - então que futuro nos espera e que futuro terão as novas gerações?


Será preciso relegar vastas camadas da população para níveis de pobreza indignos para se perceber que é uma das funções essenciais do Estado a garantia de um nível satisfatório de saúde e de bem-estar a TODOS os seus cidadãos? E que se o não fizer, as consequências podem ser dramáticas, em aumento da criminalidade e quebra da coesão social necessária à harmonia da sociedade?



8. No meu modesto entendimento, as pessoas e o seu bem-estar estão sempre primeiro. Primeiro do que o equilíbrio orçamental, que os investimentos públicos, etc. pois é da garantia do bem-estar individual que se parte para o bem-estar geral da comunidade (verdadeira justificação do Estado). Que adianta ter belas estradas e pontes modernas, belos aeroportos, grandes edifícios públicos e outras exibições de riqueza, se houver gente a passar fome, a morar em casas podres e outras privações do básico?



9. Cada cidadão deve poder viver com a noção clara de que, tem direito e vai ter, nas contingências menos felizes da sua vida e dos seus, mecanismos eficazes de protecção pública, que o dispensam de recorrer ao crime ou à mendicidade.



10. Um Estado que vira costas aos mais fracos não é um Estado Civilizado e não merece o nosso respeito nem os nossos impostos. Será nisso que este governo socialista eleito pretende transformar o Estado Português?.



Tuesday, March 06, 2007

 

O Real, o Virtual e o Divino

1. A infinita complexidade das coisas tem vindo a ser descoberta e em parte entendida e manipulada pela inteligência humana, com o auxílio de instrumentação que amplifica o alcance dos sentidos, a memória e a capacidade de organização humanas.




2. Este velho processo – de aquisição de conhecimentos e de manipulação do real – acelerou-se extraordinariamente nos últimos dois séculos. Na actual, era da informática, em que o conhecimento pode ser armazenado, manipulado e relacionado, todas as áreas do conhecimento humano iniciaram um gigantesco salto em frente que não se sabe onde conduzirá, mas certamente a sociedades tecnologicamente muito evoluídas.



3. O real convive então e dança de forma extremamente criativa com representações do real – o Virtual - gerando novos e mais evoluídos arranjos da realidade.



4. As Telecomunicações e a Internet amplificam o acesso e a troca de conhecimentos, as trocas comerciais e influenciam até o comércio amoroso.



5. Perante tal complexidade crescente, de descoberta em descoberta, poderá um dia descascar-se o real até ao seu cerne? Compreender o universo, como surgiu (se surgiu), como evolui e para onde. A natureza íntima da matéria/energia de que é feito, o decurso do tempo? O surgimento da vida e da inteligência abstracta e a sua disseminação pelo universo?.


Talvez, ou então quem sabe, de complexidade em complexidade, apenas mergulharemos um pouco mais na infinita complexidade do real, sem poder abarcar cognitivamente o todo.



6. Encontrar-se-á vida ou até inteligência abstracta noutros lugares desse imenso universo de que o nosso planeta é minúsculo grão de pó?


Talvez, mas se sim, isso virá acrescentar novas complexidades a descobrir e a entender e com que lidar.



7. E Deus – onde estará? Um dia alguém olhará da janela de uma nave espacial saída do nosso planeta e verá o rosto de Deus? Certamente que não.



8.Porque Deus está em toda a parte, é tudo o que existe, incluindo o tempo, o espaço e a energia (a inteligência é uma forma refinada de energia).



9. A Igreja Católica fala de um Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. É uma poderosa imagem. (A meu ver) Pai, representa o Espaço, o real não manifesto, ilimitado e intemporal; Filho representa o real manifesto, inscrito no tempo, em perpétuo movimento; Espírito Santo representa a Energia que flui e reflui entre ambos. Deus assim vive e assim se ama eternamente a si mesmo.



10. Deus trino e indivisível. Tão divino é o espaço sem tempo (Pai), do qual emerge o espaço com tempo (Filho), como a poderosa energia que entre ambos flui (Espírito Santo). Desda as longínquas galáxias ao menor dos átomos. Tudo o compõe, existindo à sua maneira, permitido pela vasta dimensão incognoscível do seu ser.



11. Sendo nós um parte desse real, participamos do divino, nada se podendo aliás passar fora dele, porque tudo inclui.



12. Somos um pouco de Pai, de espaço não manifesto. Um pouco de Filho, um corpo e mente concretas, viajando brevemente no espaço/tempo, enquanto ser perecível. E Espírito Santo, a fracção de energia divina que em nós perpassa e flui, do universo para o universo, de Deus-em-tudo para Deus-em-nós e de novo para Deus-em-tudo.



13. Se dermos espaço interior ao Espírito Santo (mantivermos aberto o nosso centro interior, onde somos apenas uma presença vestida por fora com corpo e mente), para por nós fluir livremente, algo de muito nosso nele viajará de volta ao Deus-em-tudo e nele ingressará para sempre. Deus amar-se-á mais e melhor através de cada um de nós, se a tanto nos dispusermos.



O que acabo de escrever são apenas hipóteses – mesmo que tenham algo de verdadeiro, jamais eu ou alguém o poderá certificar. Mas se eu me aproximar um pouco, o meu Deus há-de gostar. Eu gosto.



Monday, March 05, 2007

 

Também me faz impressão que...


1.Haja quem abandone os seus animais de “estimação”, sobretudo cães. É preciso um grau de insensibilidade e de crueldade bastante elevados para ser capaz de tal atitude, depois de ter tido a oportunidade de conviver com eles, de sentir-se por eles adorado. Que desumanidade!


2.Haja gente tão corajosa ou desesperada que parte para um país longe do seu, com uma língua totalmente diferente da sua, um modo de viver e de ser bastante diferentes, um ambiente natural estranho, uma sociedade estranha, onde não conhece nada nem ninguém. E, quase sempre com pouco dinheiro, consiga que lá encontrar um lugar digno, um trabalho, uma vida nova, ao mesmo tempo que aprende uma língua e novas regras legais e de convivência. Que coragem!


 

Faz-me impressão que...


1.Não haja um mercado de arrendamento decente. Onde fosse tão fácil, cómodo e económico arrendar casa como alugar um automóvel.


2.Que existam centenas de milhar de casas fechadas, roubadas da sua utilidade social. Umas, por estarem à venda sem compradores suficientes à altura dos seus preços exorbitantes, outras, velhas, por abandono de décadas de herdeiros desavindos.


3.Que existam milhares de pessoas a viver em prédios velhíssimos, sem condições de habitabilidade, conforto e dignidade.


4.Que existam por esse país fora imensas extensões de terra, vazias de gente, sem utilidade ou com uma utilidade marginal, onde centenas de milhar de famílias poderiam ter habitações decentes, rodeadas de espaço, natureza e animais (mas onde não é sequer legal construir) e a imensa maioria viva aglomerada em cidades desumanas, frias e poluídas.


5.Um casal jovem na idade de formar nova família, sem formação superior, terá muita sorte se conseguir arranjar um emprego precário para cada um, por 600 euros mensais, na mesma cidade. Mas como precisa de um lugar para viver, terá de comprar uma casa, por 150 mil euros, comprometendo-se com a banca a pagar muito mais de metade do rendimento líquido do casal por uns 40 anos. Se viverem e não perderem o emprego, ficarão escravos da banca para toda a sua vida activa. Mas a casa precisa de recheio, móveis, electrodomésticos, etc. (mais prestações?) e tem outros custos fixos, água, luz, gás, condomínio, Internet, telecomunicações, manutenção e reparações… E cada um vai precisar provavelmente de um carro para se deslocar para o trabalho (mais prestações, combustíveis caros, seguros, manutenção, reparações, etc.) E se vier um filho ou vários? Que custos (fraldas, médicos, amas, infantários, etc.?) E se um deles (ou ambos) ficar(em) doente? E se tiverem um acidente grave? E se o casamento acabar? Que má sorte!!


6.E se o casal tiver formação superior? Se tiver a improvável sorte de encontrar empregos à altura, na mesma cidade, as nuvens serão idênticas, mas em ponto ainda maior… a casa já será de 300 mil euros, os carros já serão de gama média/alta, etc.…mas a má sorte pode vir a ser igual, pois a incerteza é a grande paisagem de fundo onde estas vidas vulneráveis se desenrolam (despidas da protecção ancestral da família).


7.Ainda haja optimismo (inconsciência?) suficiente para continuar a trazer filhos ao mundo nestas condições tão adversas. O Estado ainda tem o desplante de aconselhar – ai a inversão da pirâmide etária! ai a quebra da natalidade! Tenham mais filhos, por favor! Para quê?


8.Sobram os sem sorte nenhuma, os que com ou sem formação superior, não conseguem sequer encontrar emprego decente. Os que têm formação superior tem uma superior frustração pois foram formatados com expectativas mais altas, impossíveis de satisfazer…


9.Que exista em Portugal meio milhão de desempregados, a maioria sem qualquer suporte financeiro público.


10.Que com tanto desemprego, se suba a idade legal de reforma e se dificultem as reformas antecipadas, dificultando a renovação de gerações no trabalho, prolongando o sofrimento de gerações que poderiam ir descansar ainda em condições de saúde razoáveis e prolongando a dependência e a frustração das gerações jovens que precisam ocupar lugares na vida activa, que teimam em não ser libertos.


11.Que milhões de pessoas tenham de sobreviver com pensões míseras.


12.Que existam milhares de crianças à espera de adopção e ainda mais famílias com vontade de adoptar crianças. E uma bur(r)ocracia lerda que as impede de se encaixarem em tempo útil.


13.Que não existam lares de terceira idade decentes em número suficiente para as necessidades da população.


14.Que não existam creches e jardins-de-infância decentes em número suficiente e ao alcance das possibilidades financeiras das famílias.


15.Que as mães não tenham tempo para acompanhar o crescimento dos seus filhos, sobretudo nos primeiros três anos de vida, tendo de entregá-los a outrem por vezes com poucos meses de vida.


16.Que as indemnizações por morte sejam ridiculamente baixas.


17.Que as indemnizações por ofensas à integridade física sejam ridiculamente baixas.


18.Que as penas dos agentes de tais ofensas (morte e ofensas à integridade física) sejam excessivamente baixas.


19.Que as pessoas tratem os outros com indiferença total ou com um arrogante olhar de cima para baixo.


20.Que se morra tanto nas estradas em resultado de acidentes tantas vezes devidos a causas evitáveis – excesso de velocidade e álcool.


21.Que as pessoas gastam somas elevadas na construção de jazigos, campas e quejandos, para resguardo de restos mortais e sejam tão avaros em facultar ajuda material aos vivos, sobretudo os mais carenciados, mesmo familiares próximos.


22.Que as pessoas fumem em lugares fechados, ofendendo a saúde e o bem-estar alheio (por vezes o egoísmo é tanto que nem notam…).


23.Que as cidade tenham tão poucas zonas verdes entretecidas na malha urbana, e tão poucas vias reservadas a peões.


24.Que, nas ruas, os passeios tenham dimensões ridículas e/ou piso empedrado extremamente desconfortável, sobretudo para deficientes, crianças, idosos, pessoas carregadas com as compras, senhoras de salto fino, etc. Tal piso desestimula toda a gente do saudável hábito de caminhar, com consequências negativas para a saúde, o ambiente e a qualidade de vida.


25.Que o Estado queira seguir as pisadas do sector privado. Dominados pela cultura da rentabilidade, ideologia central do capitalismo dominante, o Estado também busca vias para se livrar das imensas massas humanas não rentáveis, por idade, doença, deficiência, incultura. Despedir, privatizar, cobrar, fechar, reestruturar, agilizar, modernizar, são tudo variantes de excluir. Excluir, lançar borda fora da sociedade, da vida, da dinâmica do lucro, onde são peso morto esses milhões de inúteis.


26.Que o Estado gaste fortunas em despesas de saúde curativa (caríssima para as pessoas, duplamente, pois pagam também os impostos com que o Estado a co-financia, além de geradora de imenso sofrimento em boa parte evitável) e negligencia quase totalmente a saúde preventiva, onde deveria investir fortemente, para o bem-estar dos cidadãos e para a saúde das contas públicas.


27.Que a Justiça seja tão cara, morosa e complexa, não conseguindo responder em tempo útil necessidades das pessoas.


28.Que o sistema escolar seja sobretudo um apelo ao desenvolvimento da memória, num ambiente de competição, em vez da estímulo vivo à inteligência, potenciador das capacidades de interacção e cooperação humanas, com respeito pela individualidade, personalidade e talentos dos alunos, sobretudo no domínio relacional e organizacional.


29.Que a televisão, meio de comunicação magnífico, esteja pejada de lixo comunicacional – anúncios, concursos e novelas cretinas, programas imbecilizantes, filmes e séries de extrema violência.


30.Que o Estado gaste muito dinheiro em empreendimentos de luxo e obras faraónicas, de duvidosa utilidade. Recursos reconhecidamente escassos, que deveriam ser usados para proteger a vida humana, a frágil vida humana, em todas as vicissitudes e tormentas que por vezes a ameaçam (doenças, acidentes, perdas). No apoio aos mais frágeis – crianças, idosos, deficientes, desempregados, doentes, menos capazes, pessoas em risco, vítimas de crimes, etc.…


31.Neste ambiente hostil à vida, os bancos e as empresas meganacionais, grandes navios dos ricos e poderosos, continuem a navegar em segurança, aumentando escandalosamente os seus lucros, à custa da exploração geral e desenfreada de pessoas e pequenas empresas, com o beneplácito do Estado.


32.Que se formem– na escola, no trabalho, na sociedade, na comunicação de massas, escravos e ignorantes em vez amantes da liberdade.


33.Que, ao nível planetário, populações inteiras sobrevivam em ambientes de guerra, fome e miséria, num colossal sofrimento evitável, que subsiste à sombra da imensa estupidez humana.


34.Que nos países desenvolvidos se desperdice riqueza e recursos naturais no fabrico, transporte, consumo e desperdício de uma infinidade de produtos supérfluos e mesmo prejudiciais à saúde e ao bem-estar das pessoas.


35.Que seja preciso matar diariamente animais em quantidades inimagináveis (que muito apreciariam viver se os deixassem), para sobrealimentar milhões de bem (mal?) nutridos.


36.Que se ignorem e desprezem os ritmos da natureza, e consequentemente os próprios bio-ritmos da vida humana, gerando destruição ambiental e destruição espiritual, em enorme escala.


37.Que desperdicemos tanto do nosso bio tempo – limitado e que pode esgotar-se a todo o tempo – em tarefas estúpidas (que podiam ser eliminadas ou tratadas por máquinas), em transportes, em esperas bestas, em atenção a pessoas que não nos interessam nada ou mensagens que não passam de lixo.


38.Que desperdicemos tão facilmente o dinheiro que tanto nos custou a ganhar (em esforço e bio tempo) em coisas que supostamente nos fariam mais felizes, mas não fazem.


39.Que brinquemos tão pouco com as crianças; em vez disso massacramo-las de regras e interditos.


40.Que, sendo tão frágeis, nos finjamos tão fortes e sabedores e tenhamos vaidade em ser superiores a outros.


41.Que a violência (real, psicológica e simbólica) seja tão comum e banal que já pouco nos importemos.


42.Que se sorria tão pouco e se abrace ainda menos. Coisas tão importantes e gratuitas (como quase todas as coisas importantes).


43.Que algum bem-estar material que se alcançou, devido sobretudo ao progresso tecnológico e científico, tenha sido acompanhado por um empobrecimento do lado emocional e relacional do seres humanos, que estão a tornar-se meras cascas, cheias de egoísmo e banalidades, consumidores compulsivos e sobretudo seres infelizes, privados dos seus laços fundamentais com a natureza e os outros, sem a profundidade interior que talvez só o sofrimento possa dar.


44.Que haja quem compre e quem venda sexo.


45.Que haja quem viole, fira e mate, quase sempre por motivos fúteis.


46.Que apesar de tudo, a vida prossiga, fenecendo aqui, renascendo ali, tremendamente bela, tremendamente frágil, misteriosa, sempre grandiosa. Ámen.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?