Wednesday, December 20, 2006

 

Mundo torto

O mundo está torto. Sempre esteve. Está cheio de imperfeições e injustiças. Sempre esteve. Perante isso, uma de duas atitudes é possível: aceitá-lo como é e tentar viver o melhor possível dentro dele, assumindo que, apesar de todas as mudanças, no essencial será sempre torto e cheio de imperfeições, ou tentar endireitá-lo ou pelo menos mudar ou corrigir algumas dessas imperfeições.
A minha atitude sempre foi a primeira. Sei que por cada imperfeição corrigida, ao nosso olhar treinado a observá-las, as imperfeições se multiplicarão, como as pedras que o agricultor diligente recolhe da sua terra – parece que outras nascem para ocupar o lugar das que retirou.
É uma atitude cómoda? Pois é. E daí? Quem sabe quantos mortos tem às costas a outra atitude? Querer mudar o mundo já causou mais sofrimento e morte que a atitude passiva e comodista de aceitá-lo como ele é.
Em contrapartida, não desejo muito dele. Apenas que me deixe viver em paz, com os mínimos essenciais a uma vida digna e sobretudo livre. Livre de ter de servir o deus dinheiro e a sua religião – a rentabilidade. Livre de aturar os seus seguidores - os funcionários de alguém, ao serviço da eficácia e da produtividade. Livre para ter ideias próprias e borrifar-me para a ideologia oficial – o utilitarismo consumista.
A minha rebeldia radical pode sair-me cara. Pois que se lixe!

Monday, December 18, 2006

 

Galos

Perante os milhões de normativos legais (em número sempre crescente), uns em vigor, outros já não, mas que podem ainda aplicar-se em virtude das regras da sucessão das leis no tempo, o jurista vê-se em grandes dificuldades. Mas com trabalho, paciência e algum bom senso, lá vai procurando o necessário, agora com a preciosa ajuda do computador e da net.

Mas, coisa admirável, existe um largo número de normativos legais que nenhum jurista, ou mesmo grupo de brilhantes juristas, jamais conseguiria entender ou decifrar. Mesmo com a ajuda de especialistas. São, por exemplo, os normativos que integram regras matemáticas, algumas de grande complexidade.

Muitos outros normativos são quase totalmente inintelegíveis para juristas, por versarem sobre matérias técnicas ou científicas em que o jurista é totalmente ignorante.

Assim, a habitual prosápia e auto-convencimento, tão comum entre os juristas, em especial os advogados, é uma vaidade tão ridícula ou mais que a do galo que por se julgar dono da capoeira, adora exibir-se ao nascer do sol como se fosse o rei do mundo…

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