Wednesday, January 27, 2021

 

Eleições Presidenciais 2021

Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito para o seu segundo mandato presidencial. Merecidamente. Foi o mais votado em todos os concelhos do país, facto inédito. Ana Gomes ficou em segundo lugar. Foi um bom resultado, embora não se tenha mostrado nem durante a campannha nem após a contagem, à altura do cargo a que se candidatou. Mas o terceiro lugar de Ventura, que na maioria dos concelhos do país ficou em segundo, é um resultado inquietanta para o nosso futuro. Extremismo de direita não devia ter lugar relevante nas sociedades modernas. Ventura e o Chega (pra lá). O resultado eleitoral de Ventura pode ser o prenúncio de uma viragem do país à direita num futuro não muito distante. Ventura capitaliza o voto dos descontentes, dos dececionados a sua pobreza crescente e a falta de perspetivas. Contratando a riqueza crescente de muitos, que associam a corrupção generalizada, real ou hipotética. Ventura utiliza os velhos métodos da direita radical para capitalizar o descontentamento popular: usa bodes expiatórios para justificar os males ou carências do país (ciganos, políticos corruptos, os imigrantes suspeitos, pobres de outras cores, criminosos violentos, pedófilos, etc). Todos alvos a abater e alimento fácil (e venenoso) para espíritos descontentes, estimulando velhos ódios (habitualmente meio escondidos) nas populações mais desfavorecidas e menos instruídas. O país mostrou-se incapaz de promover políticas de desenvolvimento equilibrado e saudável que favoreçam o crescimento de uma classe média próspera e culta. Tem o país descurado a proteção real (não meramente simbólica) das classes mais desprotegidas da população. O falhanço do país só não é mais evidente porque se tem escudado num endividamento crescente e nos apoios comunitários nas útimas décadas. A probreza crescente das classes baixas já era um facto evidente antes da atual pandemia e vai agravar-se muito mais nos próximos anos. O número de pobres e desfavorecidos vai alastrar e muito no tecido social, nos próximos anos (ou décadas). E o consequente descontentamento e frustração. Terreno fértil para crescerem as sementes inquinadas que Ventura anda espalhando pelos espíritos. Inquinadas por velhos ódios e divisões, que curiosamente (ou talvez não) opõem os pobres, não aos ricos, mas aos mais pobres. São os pobres os piores inimigos dos mais pobres. Sempre foi assim. Por isso vão votar em Ventura, cada vez mais. Oxalá me engane.

Monday, January 11, 2021

 

A química cerebral

A química cerebral e o seu funcionamento dinâmico determinam muito do que somos. A herança genética e o contexto familiar, social, económico e cultural, ajudam a formatar e até a automatizar certos mecanismos de segregação e interação dos produtos postos à disposição da química cerebral (orgânicos, hormonas e outros compostos - adrenalina, oxitocina, endorfinas várias) ou absorvidos do exterior (drogas, incluindo medicamentos e certos alimentos). Pensamentos, emoções e crenças (no plano imaterial) e drogas – quer legais, como os medicamentos, a cafeína, a nicotina, o álcool, etc., quer ilegais, como o haxixe, a cocaína, a morfina e muitas outras e mesmo certos alimentos (no plano material) influenciam de forma decisiva o funcionamento da química cerebral. Esta, por sua vez comanda muito do funcionamento orgânico e comportamental do indivíduo. Daí não deverem surpreender certas observações empíricas, como o poder da oração, a energia extra gerada pelo medo (com descargas imediatas e poderosas de adrenalina, preparando o indivíduo para lutar ou fugir), a capacidade de aliviar e mesmo curar certas maleitas, que ervas, e outros tratamentos naturais e mesmo rezas e benzeduras tradicionalmente conseguiam, sobretudo durante os muitos séculos que antecederam a medicina moderna (mas ainda com muitos adeptos). Tal como é bem conhecido e usado por sistema como método de controle nas experiências médicas, o chamado efeito placebo: metade de um determinado grupo de doentes (ou não) é sujeito a tratamentos ou medicado com algo cujo efeito se pretende estudar e a outra metade com um produto inócuo (o placebo), para feitos de comparação. Acreditando ter tomado o produto em apreciação, pode uma parte dos utilizadores do placebo experimentar efeitos semelhantes aos da metade que usou o produto efetivo. Na política, no desporto e em muitos outros domínios da vida, os pensamentos, as emoções e as crenças, criam as condições químicas no cérebro dos indivíduos, capazes de determinar muitas das suas condutas e até ódios de estimação. Os próprios criminosos e mesmo os assassinos em série, por vezes são, sobretudo, comandados pela química cerebral – as poderosas doses de adrenalina e outros compostos, que o cérebro gera e a mente absorve (por ocasião da prática dos crimes) tornam-se verdadeiras drogas, poderosas e irresistíveis. E a sua falta reclama e repetição de atos idênticos, porventura cada vez mais ousados ou violentos (particularmente se os primeiros ficaram impunes). Também no amor, nas suas múltiplas expressões (filial, maternal, fraternal, paixão amorosa, paixão sexual, amizade, etc.), desencadeia efeitos relevantes na dinâmica da química cerebral. Por vezes eles são muito poderosos, como a segregação de oxitocina, conhecida como a hormona do amor – pelos corpos das mães na presença ou proximidade dos seus bébés, ou entre os apaixonados, na presença um do outro. A própria atração ou repulsa que os indivíduos exercem uns sobre os outros (tantas vezes sem saberem bem porquê) é me grande parte resuiltado da dinâmica da química cerebral, por influência privilegiada, a meu ver por dois fatores bastante subvalorizados – as informações sensoriais do olfato e do ouvido. Certos cheiros pessoais e mais ainda as vibrações particulares da voz de cada um, podem, nuns casos atrair, noutros causar afastamento ou mesmo repulsa. De resto, todos os contributos diários que cada um dos sentidos nos dá, também contribuem para a dinâmica da química cerebral, dando-nos a cada instante, uma síntese do sentir, que identificamos como nosso e faz parte da nossa identidade, em permanente e subtil mutação. (Acredito nisto, sem saber. Trata-se de mera intuição, assente em informação variada e experiência de vida, acumuladas na mente, ao longo dos anos).

Saturday, January 09, 2021

 

Debates

Sempre que há debates, de qualquer natureza, mas sobretudo políticos, vemos formarem-se e esgrimirem argumentos contrários, frequentemente inconciliáveis. Tudo isso é natural e até desejável. Unanimidades são águas paradas, sem impeto para ir a lado nenhum. O curioso é que se procure sempre, no fim, achar vencedores e vencidos. Uns dirão que foi um dos lados, outros dirão que foi o outro. Um terceiro grupo dirá talvez que ficaram empatados. Como se estivéssemos em presença de um jogo de futebol. Não sigo essa lógica. Para mim, debater ideias não é um jogo, nem uma batalha. É somar visões diversas ou opostas, todas contribuindo, a seu modo, para que se veja mais e melhor, o objeto de discussão. Aceito e procuro entender tudo o que se manifesta e o seu contrário como fazendo parte de um todo, que seria certamente mais pobre sem essa diversidade. Não havendo verdade absolutas, podem coexistir verdades parcelares, que podem e devem coexistir. Em política, a supremacia de umas ideias em detrimento de outras, em democracia, ocorre através das escolhas da maioria, respeitando sempre as minorias (que podem vir a tornar-se maiorias no futuro).

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