Tuesday, July 28, 2020

 

Advocacia



1. O advogado é um profissional essencial ao bom funcionamento da Justiça e dos tribunais. Um precioso auxiliar do cidadão comum, por vezes a braços com problemas que não pode resolver sozinho, com regras que não entende e nem tem que entender, temeroso do que pode acontecer-lhe face à máquina do Estado, posta em movimento (por vezes) contra si.

  1. Onde não possa haver uma advocacia livre e independente (dos poderes públicos ou quaisqer outros constrangimentos, designadamente de cariz religioso ou outro) não existe pleno exercício da Justiça, correndo o cidadão sempre riscos desmedidos de ser atropelado nos seus direitos fundamentais.

3. Como todos os profissionais, também os advogados desenvolvem certas características específicas da profissão, que ajudam a desempenhar as suas funções, pela acumulação de conhecimentos e experiência (das leis, jurisprudência e doutrina, mas também dos mecanismos práticos de funcionamento dos tribunais e ainda dos comportamentos humanos).

4. Memória e intelecto bem treinados e perspicácia na observação e interpretação dos comportamentos e mesmo da linguagem corporal estão geralmente no advogado mais desenvolvidos do que no homem comum.


5. Na prática dos tribunais, o advogado pode estar na defesa ou ao ataque (umas vezes defendendo réus, outras pedindo a condenação, em casos simetricamente opostos). Por isso e dada a versatilidade mental e a aparente neutralidade moral que ostenta, o advogado pode defender “com unhas e dentes” (argumentos legais e plausíveis) a absolvição de um réu, quando noutro caso idêntico, usou argumentos opostos (igualmente legítimos) para pedir a condenação de outro (que interessa ao seu cliente-vítima).


6. Nada disto incomoda ou sequer causa estranheza aos operadores judiciários. Porém, causa enorme estranheza e desconfiança no público sobre a moral e a retidão dos advogados, em geral.

7. Incomoda especialmente o público a posição de defesa de certos réus, sobretudo nos casos de crimes violentos graves ou crimes sexuais, quer sobre adultos quer, em particular, sobre crianças (os chamados crimes hediondos). Mas também causa uma certa revolta e incompreensão a defesa de grandes vigaristas de “colarinho branco” (crime económico-financeiro e corrupção de alto nível), que causaram enormes danos, “se abotoaram” com grandes maquias e lutam depois (por todos os meios) para escapar à Justiça (o que com frequência excessiva acontece, sobretudo pela demora da mesma em julgar de forma definitiva casos de enorme complexidade, tendo contra ela a combativa e competente barreira dos advogados de defesa, pagos a peso de ouro, porventura com dinheiro do crime).

8. Durante anos, também acreditei na suposta “bondade” de advogados tão “versáteis” que ora defendem uma coisa ora o seu contrário (se assim convier ao caso concreto).

9. No limite, pode até compreender-se que o advogado defenda a inocência do seu cliente num crime hediondo. Disso foi incumbido. Isto, mesmo sabendo da responsabilidade do cliente (que em princípio deve contar-lhe a verdade, como os pecados ao padre).
 
10. Mas essa “flexibilidade moral” não é para todos (os advogados). Muitos mantêm uma “linha vermelha” de objeção de consciência que os impede de defender “com unhas e dentes” a inocência de certos meliantes confessos, particularmente nos crimes acima referidos.

11. Faço parte deste grupo de advogados, para quem a Justiça deve ser servida, ainda que penalize o cliente. A minha defesa deve realçar as evidências favoráveis ao réu, por forma a evitar, se possível, uma condenação excessiva. Mas dispensa o pedido de absolvição se a condenação for o resultado justo (nos tais crimes hediondos).


12. Compreendo que outros colegas se possam bater pela absolvição (injusta) de monstros. Afinal esses monstros têm família e essa família muitas vezes pede, merece (e paga para isso) o melhor resultado possível para o seu familiar, mesmo que seja a (injusta) absolvição.


13. Mas não me peçam para ter por esses colegas admiração e particular consideração. Não consigo alhear-me do resultado final do seu trabalho: se conseguirem o resultado pretendido pelo cliente, a absolvição, bem sabendo que o resultado justo seria a condenação, objetivamente ajudaram a agravar as consequências do crime, sobrecarregando as vítimas ou as suas famílias, com um sofrimento muito ampliado.


14. Com as suas competências, em vez de servir a Justiça, impediram-na. Não posso aprovar, de forma alguma. Os réus merecem sem dúvida ser defendidos. Mas há limites éticos. E as vítimas de crimes hediondos e suas famílias merecem (da minha parte, não do Estado) muito maior consideração do que os criminosos.

















Saturday, July 11, 2020

 

Gémeos


Sou gémeos.

Um, vive cada dia como se fosse o último.
Para o outro, cada dia é o primeiro.

Balanço entre um e outro
Como caminho alternando cada pé.



 

A Luz e a Escuridão





A vida segue a luz

Mas tem as suas raízes na escuridão.

Quando a luz se apaga ali regressa todas as noites.




Cada um de nós absorve vida a cada instante.

Essa experiência tão intensa

Que quase apaga o passado aonde assenta.



Podemos olhar de vez enquando o reflexo do passado

Como o condutor olha no retrovisor o que passou.

Mas olhar em frente é vital e requer mais atenção.



Um descuido pode fazer-nos regressar à escuridão,

Esse lugar de onde tudo veio e onde tudo volta

Quando a luz tristemente se apagar.
















Thursday, July 09, 2020

 

Edifícios desocupados


Num país que não é rico, existem milhares de famílias a viver em condições degradantes ou inadequadas e existem centenas de milhar de edifícios desocupados, em cidades, vilas e aldeias, não cumprindo qualquer função social.

Sugeria que:

Edifícios públicos ou privados:
Após 5 anos desocupados, passam automaticamente para a posse da autarquia local.
Esta recupera e adapta, para uso público ou privado (arrendamento ou comodato).
Regista quanto gastou e apresenta a conta, com juros, a quem vier a reclamar o prédio.
Logo que este pague, recupera a posse.




 

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