Saturday, November 17, 2012

 

Os portugueses

Sim, os portugueses. Mas quais portugueses? Há os portugueses viajantes, que foram pelo mundo desde o século XV e continuam hoje a emigrar às centenas de milhar e os outros, os ficantes. Aqueles são os corajosos audazes e os corajosos desesperados. Estes são sobretudo os medrosos, os cobardes, os mesquinhos, os pequeninos. São séculos de vida de um povo que repete este padrão de existência, exportando sistematicamente os melhores e sobrevivendo, sobretudo com o resto, nas sombras da vida apesar do famoso sol “português”. Séculos de pobreza endémica, de medo entranhado a todos os poderes (alguns bem obscuros e temíveis como a Inquisição ou o salazarismo) criaram sulcos profundos no modo de ser dos portugueses ficantes. Os outros, fora do espartilho da pequenez nacional, fizeram-se (e fazem-se) gente de valor por esse mundo fora. Sei porque ficam os que ficam porque também fiquei. Sei do que falo. Não tenho orgulho de ser português, porque não é mérito meu mas mero acaso. Se pudesse orgulhar-me seria sobretudo por causa dos portugueses que um dia partiram de Portugal para viver noutros lugares mais amplos e aí criar e quase sempre deixar os seus descendentes.

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