Sunday, November 26, 2017
A salvação da alma
O corpo nasce, alimenta-se, dorme, cresce, reproduz-se e morre. E a alma? Não sabemos. Da matéria do corpo sabemos que se dispersa na natureza. Os átomos que compõem o corpo vão continuar a sua eterna viagem pelo espaço/tempo.
A alma, ou algo de nós, imaterial, que subsista após a morte física, nada sabemos - e sempre muito aventámos e aventamos.
Não sabemos se algo de nós existia antes da conceção, que até possa subsistir após a morte (e eventual regresso para novas vidas - reencarnação).
Tendo a achar estas hipóteses como fantasias humanas, fruto do desejo de imortalidade, muitas delas sedutoras, mas sem qualquer veracidade. Por não saber, nem poder saber, considero-me um agnóstico, tanto nesta matéria como em matéria religiosa propriamente dita.
O que não me retira a liberdade de cogitar (cogito ergo sum, escreveu Descartes).
Cruzando esta ignorância com a de saber se a alma, a existir, pode ser confrontada com o dilema de obter ou não a salvação divina (a eternidade) cogitei o seguinte:
A salvação divina, a existir, não é para todos os humanos (tal como a vida, a existência individual, também foi e é só para alguns - dos incontáveis milhões que poderiam emergir do vasto oceano da inexistência, somente alguns o conseguem ou lhes é dado. Dos milhões de filhos possíveis que meus pais poderiam ter gerado, somente um veio a existir, eu; a todos os outros, meus hipotéticos irmãos, tal foi negado).
E porque vivem uns e outros não - e similarmente, porque se salvarão uns e outros não? A minha proposta é: por capricho divino.
Não foi por merecimento que nos foi dada esta vida mortal, também não é por merecimento que nos será eventualmente concedida a graça da salvação (vida eterna). De novo, será por capricho divino que uns serão salvos e outros não. O próprio mal, que como tal reconhecemos no mundo, só existe porque Deus o permitiu e permite: existe por capricho divino também.