Tuesday, June 27, 2017

 

Viagem ao lado obscuro



No mês passado (maio de 2017) fiquei doente com uma febre que foi aumentando dia após dia. Automediquei-me sem grande sucesso durante uns dias e finalmente, quando o termómetro deixou de conseguir apurar a febre (após leitura de 41,8º) lá fui à urgência do hospital de Beja.

Diagnóstico: pneumonia. Tratamento: antibióticos. Resultou. Mas a recuperação foi lenta. Perdera uns seis quilos e estava bastante fraco. E os antibióticos também me deitavam um bocado abaixo.


Nos tempos da febre alta e das transpirações superabundantes, a minha mente andou muito perturbada. Os pensamentos negativos, sobretudo nas terríveis noites sem dormir, eram como nuvens negras a cobrir o meu céu interior, deixando-me assustando como nunca dantes. Apavorado.

Menos pelo temor da morte em si, mais pelo sofrimento potencial em vida e a ameaça de desestruturação do meu quotidiano e da Conceição e dos nossos canitos. Mas sobretudo comigo mesmo, com o lado obscuro de mim, que me devolvia uma autoimagem desconhecida e assustadora, um ser infra-humano, capaz de conjeturar cenários diabólicos, que me deixaram aterrorizado.


A febre deixou entrever um lado obscuro, desconhecido e assustador, um lado que em condições normais ignoro (mas que existe e pode ser ativado?). Esta estranha experiência interior marcou-me. Sou o mesmo, mas com o acréscimo desse autoconhecimento. De um lado obscuro (quase demoníaco). Passei a compreender de alguma forma os gestos tresloucados e de extrema violência contra si mesmo ou contra terceiros, que tantas vezes são títulos dos jornais. São resultado da ativação desse lado obscuro e terrível que faz parte da nossa natureza. Perturbação mental transitória mas severa ou consciência alterada por efeito de drogas podem facilmente desestabilizar qualquer um. Formas atípicas de loucura.  





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