Tuesday, April 27, 2010

 

nós

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Saturday, April 24, 2010

 

Linda

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Pequeno

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Bolinhas

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Filhas: Niki, 21 anos e Cami, 15 anos

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Pai, nos 83 anos, em 4 de Abril de 2010, em Aljustrel

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Friday, April 23, 2010

 

O último mergulho

Verão de 1973, Ribeira do Roxo, a sul de Jungeiros. Cinco da tarde. Três miudos, dois de treze anos e um de onze, nadavam pela última vez na ribeira, após uma tarde de brincadeiras na água, aproveitando o tempo quente e a alegria da idade.

Fernando, José Francisco e António Zé. Diferindo dos locais habituais dos banhos de verão, os canais de rega do perímetro de rega do Roxo, onde a água pouco mais atinge que as coxas, naquele dia, por sugestão do Fernando foram nadar para a ribeira. Ali não tinham pé, mas a
tranquilidade das águas paradas pelo paredão de uma pequena barragem e o uso de uma grande boia preta (câmara de ar), permitiram uma tarde animada. Até ali.
De repente o António Zé grita: - “ O Fernando afundou!!”e logo sai da água e corre nu pelos campos, em aflição.
Virando-se na água José Francisco vê ainda uma mão em abandono quase à superfície da água e nada dois metros até lá tacteando em busca do amigo. Em vão.
Logo chegam as mulheres (que andavam perto a trabalhar) e o choro aflito da mãe do Fernando.
Filho único, ali perdera a vida, por congestão e morte súbita.
É impossível imaginar a dor dos pais. Também a dor dos amigos.
José Francisco sonhava durante meses com o amigo e acreditava que afinal não tinha morrido (até acordar para a tristeza de sera apenas outro sonho).
De dia, muitas vezes julgava vê-lo pelas ruas da aldeia, sobretudo porque as suas roupas foram dadas a um menino da mesma idade que as usava muito.
E não sabia o que dizer ao Benfica, o cão fiel que andava sempre com o Fernando e ficou sem saber nada a não ser a falta dele.


A dor da mãe fê-la imaginar que o culpado da morte do filho fora o José Francisco. E deixou de lhe falar por muitos anos.
Mas os pais do Fernando eram ainda novos e logo quiseram mais filhos. Em breve nasciam o Paulo e a Lénia, hoje adultos, casados e com filhos.
Da dor da morte do Fernandinho soube a vida fazer florir outras vidas, que darão talvez origem a tantas outras.



Beja, 23-04-2010
José Francisco
(Esta semana encontrei casualmente uma moça, pequena e simpática, cujos traços fisionómicos me fizeram lembrar alguém... era a Lénia, a irmã Fernandinho. Beijei-a com alegria, mas sozinho, voltei a chorar, como sempre, pelo destino do meu querido amigo).

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Friday, April 16, 2010

 

Sonho antigo

Um velho sonho esquecido no fundo de uma gaveta do ser


Desde muito miudo, a minha maneira de encarar a vida foi fortemente influenciada pela minha maneira de ver, em sentido estrito. Os meus olhos cedo se revelaram fortemente míopes. Entrei para a primária de óculos, era o único a usá-los em toda a primária e mesmo no secundário eram raros os miúdos com óculos.

A miopia não me impediu de fazer quase tudo o que os outros fazem (excepto a maioria dos desportos). Mas absorvi o mundo de uma forma particular, com um filtro deformante, perdendo por certo muita da sua beleza, que mesmo assim me parece extraordinária e inesgotável.

Por vezes ao longo da vida sonhava (acordado) a possibilidade de um dia ver bem – ter a experiência de ver o mundo como todos em geral o podem ver. Cheguei a usar lentes de contacto mas a memória que me ficou foi a das dores terríveis nos olhos por ocasião da rejeição delas.

Acabei atirando para o fundo de uma gaveta de mim esse sonho por parecer irrealizável e adaptei-me à ideia de que, tendo vivido e quase visto o mundo bem, viveria toda a vida no quase. E morreria sem saber.

O meu amigo oftalmologista ontem observou-me e as suas palavras acordaram esse velho sonho esquecido. Segundo ele a solução apropriada para o meu caso são as lentes intra-oculares de silicone, de que já ouvira falar mas imaginava algo assustador. Na posse de mais informação, a minha esperança de um dia poder ver bem ou pelo menos muito melhor, recomeça a mexer. Como as sementes, teimou em esperar o tempo tempo certo para crescer e quem sabe, com sorte, florir um dia.


Decidimos corrigir por ora miopia com novas lentes por mais um ano. Aí, vamos por certo avançar com o processo. Já estou a mentalizar-me que é possível e devo passar por aí.

Sentir esta esperança deu-me uma nova alegria ao presente – a esperança é sem dúvida um poderoso estimulante da vida humana.
A esperança de poder realizar um dos meus mais poderosos sonhos, tanto tempo esquecido, é uma fonte inesgotável de endorfinas e consequente bem-estar. Vou beber dessa fonte até um dia em que se tudo correr bem acederei a ver a vida bem. Se correr mal morrerei afogado no pesadelo de ficar pior do que estava. Mas quero tentar, com alegria, mesmo correndo o risco.

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Tuesday, April 13, 2010

 

Do que é feito o mundo?

Aquele que maltrata o outro sem que este previamente o tenha maltratado, é um ser moralmente malformado. Infelizmente, são assim tantas pessoas que o aleijão moral parece normal e ser recto, gentil e bom com quem nunca antes nos deu motivos para o não ser, parece uma coisa insólita, estranha. Chega a provocar um ódio surdo nos tais, infelizmente a generalidade da massa humana, cuja humanidade se resume a muito pouco, quase nada.

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A última viagem

Este mundo que vim visitar é simultaneamente absolutamente belo e absolutamente infame.

A beleza está em permanente construção, exuberante por toda a parte, sendo uma superabundância criativa da natureza (incluindo a beleza das gentes).

A infâmia decorre desde logo de um olhar retrospectivo sobre a história da humanidade neste lugar. Povoada de infinitas guerras, matanças e crimes, acumularam um passivo de sofrimento, mormente de gentes inocentes, impossível de resgatar seja de que modo for.

Mesmo na actualidade, não passa um instante sem que incontáveis seres humanos e animais sejam sujeitos a sofrimentos atrozes e imerecidos.

Assim, se acaso me for um dia proposto que faça nova visita a este local exdrúxulo e contraditório, a minha resposta, que já fica dada, é não.

Nem toda a beleza do mundo pode apagar a vileza de massacrar uma única vítima inocente. Não pode ser lavado o sangue de infinitos inocentes.

Quase morri nos primeiros meses de vida. Pensei depois que Deus esteve indeciso sobre deixar-me viver ou não. Acho agora que quem esteve indeciso fui eu. Fiz bem em aceitar esta viagem. Porém, espero e desejo que seja a última. Deste lugar já sei o bastante para escolher não voltar.

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Friday, April 09, 2010

 

O modelo económico capitalista

A lógica do modelo económico capitalista é muito simplesmente a lógica do lucro. É indiferente à moral, à ecologia, a uma difusão minimamente equitativa da riqueza por forma a garantir inclusão e a paz social.
O lucro (eufemisticamente, a rentabilidade) é o único guia de viagem dos empreendedores e a pedra de toque para a definição da vida e futuro das empresas.

Não vale a pena iludirmo-nos. A empresa capitalista visa o lucro e só simula o interesse ecológico, moral, social, etc, na medida, bem estudada, em que essa simulação serve o seu interesse maior – mais lucros, pela conquista de novos mercados (estratégia de marketing) e mesmo de clientes bem informados e bem intencionados.

Por isso, não devemos estranhar que uma grande empresa que aumenta os lucros através da sobreexploração dos seus consumidores e dos seus trabalhadores (emagrecimento de custos salariais e sociais) gerando lucros importantes, se permita pagar elevadíssimos salários e bónus de desempenho aos seus gestores de topo (quem aliás os propõe, argumentando com os tais lucros alegadamente obtidos pela boa gestão).

Os accionistas, conferindo os números e verificando um aumento do seu lucro, são quase indiferentes aos ganhos milionários desses gestores e indiferentes ao modo como foram obtidos tais lucros (nem sociedade, nem natureza, nem justiça social, importam face à sua contabilidade privada).
Os gestores da grande empresa capitalista, quando exibem os lucros astronómicos como obra sua (e justificação para altos prémios) não deixam de ter alguma razão. Com uma pequena nuance: boa parte desses lucros não passa de roubo descarado (que os Estados aceitam por conivência e conveniência própria).

O modelo capitalista, que tem grandes virtualidades, baseia-se em características humanas comuns e marcantes – o egoísmo, o gosto pelo sucesso, conforto e segurança que só o dinheiro permite – e faz girar as economias a uma elevada velocidade de cruzeiro, estimulando a pesquisa e inovação tecnológica em todos os domínios.

Mas a longo prazo, esse desprezo (real, ainda que por vezes camuflado) pela natureza e pelo bem estar colectivo, poderão gerar fenómenos limite de esgotamento de recursos naturais, hiperpoluição e sociedades automatizadas, com legiões de excluídos. Excedentes humanos que um dia poderão organizar-se e revoltar-se contra o mundo estúpido, onde a superabundância e o luxo de uns poucos (cujo brilho tem seduzido quase todos, incluindo as elites pensantes) ofende a vida precária da maioria.

Morto o modelo alternativo da economia planificada, resta por agora ao mundo este modelo único de desenvolvimento. Modelo cada vez mais globalizado e como tal expandindo para todo o lado as suas virtualidades e os seus defeitos. Uns e outros ver-se-ão cada vez melhor à medida que o tempo passa.

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