O Mestre e o Discípulo

Eu também já tive amigos. Amigos de infância, amigos de adolescência, amigos da escola primária, do colégio, do liceu, da faculdade. Perderam-se de mim na vida. Por vezes reencontro um ou outro, ao vivo ou nas redes sociais. É bom, mas não confundo. Os amigos que tive são amigos-modo-de-dizer. Talvez se alegrem um pouco com os meus êxitos, talvez se condoam um pouco com os meus fracassos e perdas. Superficialmente. Por desfastio. Amigos a sério são algo muito diferente. Uma espécie de irmãos adotivos. Quase todos os tiveram (ou têm) pelo que escuso de os definir. A amizade é uma bela coisa, das melhores. Mas para as ter é preciso cultivá-las. Sem isso, definham. Podem não morrer, mas ficam por ali, à espera de melhores dias, que geralmente não chegam. Acontece que, por temperamento, não sou de cultivar amizades. Os que chegam e ficam ou prosseguem, fazem-no por imperativo seu ou da vida, não por escolha minha. Assim, há muitos anos que não tenho amigos. Sei disso e não me lamento. Aceito-me exatamente como sou, em tudo e também nesse particular. Se me acontecer algo de muito mau (como um enfarte quase fatal ou a morte de familiares muito próximos), terei todos os meus amigos a telefonar, a mandar mensagens ou a torcer por mim: exatamente, nenhum. Já aconteceu, mais de uma vez.

Amélie, bébé tão doce. Amélie, menina tão doce. Amélie, jovem sempre doce. Porque decidiste partir assim Deixando tanta dor e tristeza Nos nossos corações? Para nós, serás sempre a mais doce. A lembrança da dor e da tristeza Será vencida, com o tempo, Ficando somente a tua incomparável doçura. Francisco, 02.02.2022