Sunday, August 23, 2020

 

Política e Políticos

Um psiquiatra americano conceituado afirmou, em entrevista, que a percentagem de psicopatas na classe política é a mais elevada de entre todas as profissões. Isso confere com uma velha intuição minha. Os seres humanos, durante a longa caminhada da história, quase sempre difícil ou muito difícil, precisaram, além de desenvolver a inteligência, as capacidades gregárias, as capacidades guerreiras, as capacidades afetivas, também a capacidade de acumulação. Aprenderam que era seguro acumular, alimentos, utensílios, animais domesticados, ouro, armas, etc. Aprenderam que era muito útil acumular poder, sob diversas formas, sobre os seus semelhantes. Política, religião e crenças, permitiram essa acumulação e a manipulação em larga escala. A religião tem caído em desuso, mas a política e as crenças parecem ter vindo sempre a ganhar fôlego. A política (e a sua face violenta, a guerra) permitem manobrar grandes “rebanhos” humanos, com uma eficácia muito elevada, com os meios científicos e tecnológicos, financeiros e organizacionais modernos. As crenças, na sua manhosa maciez, são permanentemente inculcadas pelos media, levando a uma subordinação a modas, conceitos e medos, ao serviço dos donos do mundo. Os políticos, viciados na acumulação de poder, tanto como os viciados em acumulação de riqueza (ou de tralhas), absorvem o mundo e relacionam-se com os demais (políticos ou não) com um filtro psíquico particular, num modo característico de deformação do real, claramente patológico. Não que todos os políticos sejam loucos, mas existe uma percentagem muito elevada de mentes perturbadas (o que não invalida a inteligência ou mesmo a boa vontade de muitos). Do ponto de vista da organização da sociedades, a persistência deste tipo psíquico (o político) tem muita utilidade. Nunca faltarão (nem faltarão) pessoas assim, com desejo de poder, sempre mais poder. Ocupam lugares de relevo e são vistos pelos outros como importantes e poderosos, o que lhe reforça permanentemente a sua própria auto-imagem (distorcida) de detentores de poder. Geralmente, isso contribui para o funcionamento regular das sociedades, apesar de ciclicamente assoladas por crises, revoluções ou guerras, que obrigam a reformulações. A realidade é outra: todos estamos, as pessoas comuns e os poderosos (da política ou do dinheiro) equidistantes da morte. A um pequeno e caprichoso sopro do destino, regressamos ao nada.

 

Política e Políticos

Um psiquiatra americano conceituado afirmou, em entrevista, que a percentagem de psicopatas na classe política é a mais elevada de entre todas as profissões. Isso confere com uma velha intuição minha. Os seres humanos, durante a longa caminhada da história, quase sempre difícil ou muito difícil, precisaram, além de desenvolver a inteligência, as capacidades gregárias, as capacidades guerreiras, as capacidades afetivas, também a capacidade de acumulação. Aprenderam que era seguro acumular, alimentos, utensílios, animais domesticados, ouro, armas, etc. Aprenderam que era muito útil acumular poder, sob diversas formas, sobre os seus semelhantes. Política, religião e crenças, permitiram essa acumulação e a manipulação em larga escala. A religião tem caído em desuso, mas a política e as crenças parecem ter vindo sempre a ganhar fôlego. A política (e a sua face violenta, a guerra) permitem manobrar grandes “rebanhos” humanos, com uma eficácia muito elevada, com os meios científicos e tecnológicos, financeiros e organizacionais modernos. As crenças, na sua manhosa maciez, são permanentemente inculcadas pelos media, levando a uma subordinação a modas, conceitos e medos, ao serviço dos donos do mundo. Os políticos, viciados na acumulação de poder, tanto como os viciados em acumulação de riqueza (ou de tralhas), absorvem o mundo e relacionam-se com os demais (políticos ou não) com um filtro psíquico particular, num modo característico de deformação do real, claramente patológico. Não que todos os políticos sejam loucos, mas existe uma percentagem muito elevada de mentes perturbadas (o que não invalida a inteligência ou mesmo a boa vontade de muitos). Do ponto de vista da organização da sociedades, a persistência deste tipo psíquico (o político) tem muita utilidade. Nunca faltarão (nem faltarão) pessoas assim, com desejo de poder, sempre mais poder. Ocupam lugares de relevo e são vistos pelos outros como importantes e poderosos, o que lhe reforça permanentemente a sua própria auto-imagem (distorcida) de detentores de poder. Geralmente, isso contribui para o funcionamento regular das sociedades, apesar de ciclicamente assoladas por crises, revoluções ou guerras, que obrigam a reformulações. A realidade é outra: todos estamos, as pessoas comuns e os poderosos (da política ou do dinheiro) equidistantes da morte. A um pequeno e caprichoso sopro do destino, regressamos ao nada.

Friday, August 07, 2020

 

Poder

Nada parece ser mais importante para os seres humanos, que ter e/ou exercer poder. Poder significa conseguir que os outros façam (e se possível pensem) conforme a nossa vontade. Pode conseguir-se ter poder sobre o outro (ou outros) de muitas formas. Desde as mais rudes (violência, física ou psicológica ou ameaça de violência) até às mais subtis (sedução, promessas, argumentação, lábia, enganos, persuasão...) passando por muitas outras (até um bébé percebe rapidamente o poder que o seu choro estridente tem sobre os adultos, que logo se apressam a cuidar dele, só para tentar parar o incómodo insuportavel). Começamos por ser sobretudo sujeitos passivos do poder alheio, na família, no círculo mais alargado de pessoas, na escola...). Crescemos a fazemos tudo para conseguir passar para o lado ativo. Queremos poder para o exercer sobre os outros, não só pela satisfação íntima e segurança que nos dá, mas por assim conseguirmos defender-nos melhor dos poderes alheios. Ter ou acumular dinheiro ou fortuna é talvez a forma mais segura e ambicionada de ter poder. Porque o dinheiro compra (quase) tudo: bens e serviços, prestígio social, respeito, influência, temor e consciências (corrupção, por exemplo). A política representa a segunda forma mais atrativa de ter ou exercer poder. Na política, a mera aparência ou imagem pública de poder já constituem em si mesmas um poder relevante. Assim, todos buscam ter poder e evitar sofrer a influência dos poderes alheios. Mesmo assim, ninguém está imune. A manipulação de consciências pelos mass media exerce o seu poder modelador, diariamente, sobre todos. Por isso é conhecido pelo quarto poder (a somar aos tradicionais legislativo, executivo e judicial). Evidentemente que o poder maior é o poder do Estado. O somatório dos seus poderes não deixa ninguém imune e, se em democracia é exercido de formas mais suaves e aceitáveis, nos regimes autoritários, particularmente nas ditaduras de vária ordem, os cidadãos são pouco mais que números, contribuintes, soldadesca ao dispor do Estado, com prisões e degredos como pano de fundo tenebroso sempre presente. Não esquecer que, no limite, o Estado pode extinguir a vida do indivíduo (Estados que aplicam a pena de morte) ou exigir que “dê a vida pela Pátria”, em tempos de guerra. O conhecimento também é uma forma de poder. O que sabe mais (em particular na sua área profissional) está em vantagens sobre os demais. E disso tira partido, beneficiando sob muitas formas, da sua posição (em prestígio, influência e economicamente). O poder (exercê-lo ou sofrê-lo) é uma constante na vida humana. Mesmo os pais mais carinhosos exercem poder, por vezes excessivo, sobre as suas crianças. E mesmo os donos menos autoritários, exercem poder de variadas formas sobre os seus animais de estimação, frequentemente ignorando as suas preferências, em detrimento das escolhas do dono. Pessoalmente, não aspiro a ter poder e não aprecio exercê-lo: se necessário, aceito usar a mais suave das formas de poder: a persuasão afetuosa (e se não funcionar, aceito sem problemas). Basta-me evitar ao máximo ser sujeito passivo dos poderes alheios. Para tanto, mantenho a consciência vigilante e procuro gerir bem as minhas energias, por forma a não ser uma vítima fácil.

 

O quê?

Vivemos, de dia em dia, de mês em mês, de ano em ano, de idade em idade, em busca de quê? em direção a quê? Mais novos, os objetivos traçados não são nossos. São da família e da sociedade. Querem-nos, obedientes, educados bonzinhos, estudiosos, respeitadores, cumpridores, disciplinados. E que passemos de ano, de preferência com boas notas e já agora no quadro de honra e sem faltas. Mais tarde, somos nós (ou assim julgamos) a traçar objetivos: aceitação social (um curso, um bom emprego, uma carreira, mais rendimentos, uma nova família, casa, carros, viagens, etc.). E continuam a querer-nos obedientes, educados bonzinhos, estudiosos, respeitadores, cumpridores, disciplinados e ...contribuintes. Pelo caminho, talvez surjam algumas inquietações espirituais (ou não). Afinal, tudo isso, se conseguido, chega? É mesmo esse o propósito da viagem extraordinária e única que nos foi entregue, para dela cuidarmos por algumas décadas? As religiões e as várias propostas espirituais, desde o ioga até aos livors de auto-ajuda, têm muitas respostas. Mas nenhuma satisfaz completamente. As inquietações da alma foram retratados com espacial nitidez pelos poetas. Mas, apesar do contributo inestimavel, a pergunta permanece sem resposta á altura. O quê? O que é que era verdadeiramente essencial que encontrássemos durante a viagem? Durante milénios, os mais afoitos exploraram as profundezas da mente humana, provocando estados alterados de consciência, através da ingestão controlada de alucinogéneos. “Viram” e relataram coisas e feitos extraordinários, que a linguagem corrente mal chegava para descrever, mas foram guias para multidões de seguidores. Fundaram religiões, seitas, cultos e tradições. E um sem fim de criações concretas, na arquitetura – templos, igrejas, conventos, monumentos - e nas mais diversas artes – pintura, escultura, música, artes decorativas, artes cénicas. Modernamente, sem a sabedoria e a prudência dos velhos sábios, o consumo de alucinogéneos, transformou-se num desastre de dimensões catastróficas (os consumos de drogas) e num negócio colossal (os seus múltiplos, violentos e lucrativos tráficos). Deixou de ser veículo para busca do sagrado (e do sentido mais profundo da existência) pelos meandros geralmente inacessíveis da mente e passou a ser consumo descontrolado e destrutivo, na busca de emoções fortes e fuga da (aparente) banalidade da vida comum. Os mais românticos acharam que o amor pudesse ser a salvação, o ingrediente (não tão secreto, já que vem desde há muito sendo apontado por poetas, filósofos e sonhadores) que daria finalmente sentido último à viagem (“levarás apenas o amor que deres e receberes”). Mas não é ainda essa a chave que abre o segredo, a mão que afasta o véu do realidade, para revelar os seus segredos mais íntimos. Sendo as paixões amorosas poderosas variantes dos estados alterados de consciência, capazes de gerar comportamentos extremos de aparente irracionalidade, a sua duração limitada, cedo revela que não era ainda esse o código de acesso capaz de revelar o sentido da vida. E o amor ao próximo, tão louvado pela generalidade das religiões? É uma proposta bonita e um bom conselho. Mas os humanos concretos são como são. Bastante impermeáveis aos bons conselhos (mais permeáveis, infelizmente, aos maus). Poucos terão a alma suficientemente grande para acolher os outros, de coração aberto e sem discriminações. Mesmo os melhores de todos, os santos, ao longo das suas vidas foram muitas vezes capazes de praticar ações de que até o comum dos mortais se envergonharia. Criar filhos, deixar continuadores, parece ser, para muitos, finalmente, o sentido último da vida. Mas, entra-se num círculo vicioso: criar filhos, para que criem filhos, para que criem filhos, para que criem filhos... É bonito, tem utilidade, sobretudo do ponto de vista da continuação da espécie. Mas não parece ser a resposta à questão. Por causa da nossa velha história da luta pela sobrevivência, um desafio bem antigo mas sempre atual, desenvolvemos com sucesso inúmeras estratégias. Um traço muito comum foi o gosto pela acumulação. Acumulamos bens materiais, fortuna (se pudermos), livros (se amantes da leitura e dos livros), gorduras (pela generalizada sobrealimentação nos países onde os alimentos estão mais acessíveis às massas), etc. De resto, vivemos num mundo de sobre-estímulos sensoriais, que levam a excitação superficial e ao entorpecimento dos níveis mais profundos do ser. Mas, tudo o que tivermos acumulado (e tanto conforto, material e espiritual nos vai dando) teremos necessariamente de PERDER. Quanto mais tivermos, mais perderemos (porque tudo perderemos, incluindo os que mais amamos). Acumular parece de pouca valia e representa uma sobrecarga, uma bagagem pesada, para carregar na viagem. Melhor não. Há também quem busque na acumulação de experiências sexuais intensas o modo predileto de preenchimento prazeroso das suas vidas. Sendo o sexo uma poderosa necessidade da nossa natureza animal, é também uma fonte de prazer, mas não creio que possa acrescentar muito em termos de progresso espiritual. Talvez até ocorra o contrario. É só uma hipótese, não tenho experiência suficiente para avaliar. Se todas as propostas e todas as seduções falharem (e falharão), sendo as mais em voga (pelo menos até à atual pandemia de covid-19) viajar e acumular experiências sensoriais – lugares, comidas, climas, paisagens, ambientes, pessoas, jogos, filmes, músicas, competições várias - e usar com sofreguidão o entorpecente da moda, os artefactos tecnológicos, a questão de fundo continua intocada: o que é AQUILO que viémos em busca e que não deve escapar-nos, sob pena de termos falhado o essencial? Ainda não sei. Não sei se outros saberão. Mas só confio na minha própria experiência: as experiências alheias são, para mim, meras histórias. Pouco ou nada contam. A minha busca, talvez inglória, continua (enquanto a minha consciência me guiar). Entretanto, regresso por vezes a Caeiro: “A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo”. (Porém, existir NÃO BASTA...).

This page is powered by Blogger. Isn't yours?