Monday, October 17, 2022

 

A condição humana

A condição humana. Não é normal encarar a guerra como uma coisa normal. Tal como não é normal, como foi durante séculos, encarar a escravatura como uma coisa normal. O lado violento da natureza humana, apesar de ser uma constante da história e continuar a sê-lo no presente, nas vidas de grande parte dos seres humanos, nunca foi devidamente compreendido Geralmente, crê-se que seja um afloramento particular de uma característica mais geral, comum ao restante reino animal. Mas será mesmo isso? Onde, no restante reino animal, se vê a crueldade e violência extrema que os humanos sempre praticaram e praticam sobre membros da sua própria espécie (já para não falar sobre das muitas outras que têm o azar de cruzar o seu caminho)? Vista de fora (caso fosse possível) a humanidade seria considerada a espécie, não só mais violenta, mas a única verdadeiramente maléfica, diabólica. Mas cada um de nós, que conhece por dentro um exemplar da espécie (a si mesmo, embora com limites), não se vê como um monstro ético. Nem conseguiria suportar tal visão. Talvez não sejamos, enquanto espécie, tão diabólicos como os nosso atos sugerem. Talvez tenha razão o biólogo australiano Jeremy Griffith quando defende em “Freedom”, que a condição humana tem estado cativa de uma psique profundamentre perturbada, uma mente neurótica, doente (desde o surgimento da inteligência racional). Não seremos talvez uma espécie diabólica, mas apenas a vítima de um confronto entre dois aspectos muitas vezes conflituantes da nossa natureza: o nosso ser instintivo, animal e o nosso ser inteligente, humano. Um e outro são naturalmente bons, cooperantes, não violentos, altruistas. Mas ao conflituarem, geram uma frustração e um sentido de culpa tão negativo que nos sobrecarrega com visões deturpadas e dissociadas, quer de uma quer de outra das nossas “duas” naturezas. Resultando nessa mente profundamente perturbada, que é capaz de tudo de mau, egoista, violento, destrutivo. E não se choca com isso. Nesta cegueira ética consiste a sua doença grave, a sua psicose. Se não conseguirmos, como espécie, curar esta doença, os seus efeitos serão cada vez mais terríveis, o mal que fazemos uns aos outros, aos animais e à mãe natureza será cada vez maior, insuportável. No limite, arriscamos a nossa destruição. É uma pena, pois somos criaturas fantásticas. A consciência humana é a mais sofisticada criação da natureza. Somos seres extraordinários e no entanto, praticamos o mal com uma naturalidade desconcertante e teimamos em ignorar os abismos para onde nos leva a nossa consciência perturbada.

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