Monday, April 29, 2024

 

Beja, de novo.

Está a terminar abril de 2024. No início de março voltámos a morar em Beja, no prédio da Rua Prof. Bento de Jesus Caraça, onde já antes morámos. O bairro de Mira Serra já nos conhece e nós conhecemos o bairro. Estamos todos mais velhos dez anos, desde a última vez que daqui saímos, após o falecimento do meu pai, em 2014, quando com ele morámos no rés-do-chão, nos seus últimos meses de vida. Gosto deste novo capítulo das nossas vidas. Desta vez, moramos no segundo e último andar. Mais perto do céu. Beja é a cidade que escolhi para viver a minha vida adulta. E está certo.

Wednesday, June 21, 2023

 

Mortes

A primeira morte (a morte física) é a viragem decisiva, o fim da existência para quem parte e a tristeza e saudade para quem fica. A segunda morte é a que acontece somente quando morre a última pessoa que ainda conheceu e se lembra daquele que partiu antes ou muito antes. Depois, é o destino comum de tudo e de todos: o esquecimento para sempre. E os que são lembrados pelas suas obras e vidas marcantes? Ilusão apenas. Não são eles que são lembrados, mas as imagens parcelares, idealizadas, que os outros deles constroem. A única morte que verdadeiramente conta é a primeira, a que nos tira o mais precioso bem, a vida. O resto é totalmente indiferente para quem a perde (embora pese na mente e coração de quem fica). Ser lembrado, estimado ou idolatrado ou apenas esquecido, o mesmo vale, para o morto: nada. Aceitar a vida é estimá-la, enquanto dura. Aceitar a morte, para quando vier e certamente sempre vem, é também aceitar com naturalidade o esquecimento que nos cabe, a cada um de nós, como a todos e a tudo. J. Francisco 20 de junho de 2023

Tuesday, May 30, 2023

 

A Sobrecarga Normativa

incerteza da vida e da precaridade da saúde (todos os dias existem rúbricas ou notícias sobre saúde, que alertam para a existência de múltiplas doenças, que teoricamente podem chegar a qualquer momento a qualquer um. Noticiário deprimente sobre acidentes (rodoviários e outros) e criminalidade, para garantir a a permanência de um medo residual (mas ativo e persistente) perante a vida. Acresce a este quadro uma invisível teia de normativos legais (nacionais e supranacionais) que dificultam as atividades humanas, representando dispêncidos incalculáveis de recursos (humanos, materiais e financeiros) para tentar implementá-los no quotidiano das empresas e das pessoas. Regular as atividades humanas é necessário. Mas, a meu ver, o excesso regulatório é tão ou mais prejudicial à economia e à vida das pessoas, como a ausência de regulação (o laissez-faire). A nossa civilização sofre de excesso regulatório. Essa é, a meu ver, uma ameação invisível à qualidade de vida das futuras gerações. Porque a liberdade é condição da vida e a ela inerente. Veja-se a vida selvagem, compare-se com a vida domesticada, onde a liberdade foi esmagada ou destruída, que animais são mais felizes? Os livres, em estado selvagem, apesar de todas as incertezas inerentes (preço da liberdade). Ora, toda a regulação cerceia a liberdade, restringe o permitido, cria muros entre os agentes económicos (e diligentemente o Estado cria e recria impostos e taxas para obter recursos de todos os fluxos de capital). Esses muros erguem-se também entre as pessoas, encerradas cada vez mais num individualismo estéril e triste. Não será talvez um mundo melhor o que aí vem, para as novas gerações, apesar do previsível progresso científico e tecnológico em curso. Porque também este tenderá a aumentar a sobrecarga normativa, inimiga da liberdade, esse anseio profundo e vital de todos os seres.

Wednesday, February 22, 2023

 

Um ano de guerra.

Um ano de guerra na Ucrânia. A escolha malévola de Putin. Um ano de guerra na Ucrânia. A Rússia a massacrar um povo, a destruir vidas e bens. Morte de inocentes, sofrimento incalculável de muitos outros, milhões de deslocados e refugiados. A atingir milhões de pessoas (com a inflação galopante generalizada) por todo o planeta. E insiste. E promete agravar o conflito, a destruição, o sofrimento e a morte de milhões de inocentes, sobretudo na Ucrãnia, mas ameaçando galgar frmonteiras, n novos territórios, como incêndo incontrolável. A propaganda de Putin e a sua máquina oficial é muito eficaz internamente. Mas a inescrupulosa propagação de mentiras colossais, para convencer a opinião pública interna de que o que está a fazer é o correto, não pode evitar que os próprios saibam perfeitamentre que estão a mentir. Como conseguem dormir e acordar depois, ver-se ao espelho, sabendo que estão espalhando sofrimento e morte de inocentes, bem sabendo que são monstros morais, é um mistério. Um dos mistérios mais profundos da condição humana: deixar de ser humano e conseguir enganar a própria consciência, evitando ver os monstros morais em que se transformaram, continuando a fazer-se passar por humanos perante si mesmos (mas, de outro modo, como suportariam ver o seu próprio rosto horrendo?!).

Monday, January 23, 2023

 

ALTIS

Apolo. Linda, Tico e Snupi. Os meus 4 cães. Todos foram importantes e amigos. Todos já se foram (o último, Snupi, foi hoje para cremar em Beja). Decidi não ter mais cães. Já participei na aventura de ter cães. Gostei muito. Agora inicio uma nova etapa de vida, sem cães (nem outros animais de estimação). Com as letras dos seus nomes criei a palavra ALTIS, que passa a significar o conjunto dos meus amigos caninos que já partiram. Adeus ALTIS. Adoraria rever-vos, um dia, não apenas em sonhos.

Monday, October 17, 2022

 

A condição humana

A condição humana. Não é normal encarar a guerra como uma coisa normal. Tal como não é normal, como foi durante séculos, encarar a escravatura como uma coisa normal. O lado violento da natureza humana, apesar de ser uma constante da história e continuar a sê-lo no presente, nas vidas de grande parte dos seres humanos, nunca foi devidamente compreendido Geralmente, crê-se que seja um afloramento particular de uma característica mais geral, comum ao restante reino animal. Mas será mesmo isso? Onde, no restante reino animal, se vê a crueldade e violência extrema que os humanos sempre praticaram e praticam sobre membros da sua própria espécie (já para não falar sobre das muitas outras que têm o azar de cruzar o seu caminho)? Vista de fora (caso fosse possível) a humanidade seria considerada a espécie, não só mais violenta, mas a única verdadeiramente maléfica, diabólica. Mas cada um de nós, que conhece por dentro um exemplar da espécie (a si mesmo, embora com limites), não se vê como um monstro ético. Nem conseguiria suportar tal visão. Talvez não sejamos, enquanto espécie, tão diabólicos como os nosso atos sugerem. Talvez tenha razão o biólogo australiano Jeremy Griffith quando defende em “Freedom”, que a condição humana tem estado cativa de uma psique profundamentre perturbada, uma mente neurótica, doente (desde o surgimento da inteligência racional). Não seremos talvez uma espécie diabólica, mas apenas a vítima de um confronto entre dois aspectos muitas vezes conflituantes da nossa natureza: o nosso ser instintivo, animal e o nosso ser inteligente, humano. Um e outro são naturalmente bons, cooperantes, não violentos, altruistas. Mas ao conflituarem, geram uma frustração e um sentido de culpa tão negativo que nos sobrecarrega com visões deturpadas e dissociadas, quer de uma quer de outra das nossas “duas” naturezas. Resultando nessa mente profundamente perturbada, que é capaz de tudo de mau, egoista, violento, destrutivo. E não se choca com isso. Nesta cegueira ética consiste a sua doença grave, a sua psicose. Se não conseguirmos, como espécie, curar esta doença, os seus efeitos serão cada vez mais terríveis, o mal que fazemos uns aos outros, aos animais e à mãe natureza será cada vez maior, insuportável. No limite, arriscamos a nossa destruição. É uma pena, pois somos criaturas fantásticas. A consciência humana é a mais sofisticada criação da natureza. Somos seres extraordinários e no entanto, praticamos o mal com uma naturalidade desconcertante e teimamos em ignorar os abismos para onde nos leva a nossa consciência perturbada.

 

Os bonobos

Os bonobos (primatas do Congo) são os aninais mais inteligentes do planeta, fora os humanos. Vivem em sociedades matriarcais, são cooperantes, afetivos, não agressivos.Brinacam muito e fazem sexo com frequência, não só para a reprodução, mas como atividade lúdica que desfaz qualquer hostilidade entre eles. São a espécie terrena que mais se aproxima do ideal de uma vida feliz. O mito do bom selvagem, que Rousseau idelaizou, é algo parecido com os bonobos, versão humanóide dos tempos primordiais. Uma espécie de èden de onde fomos expulsospor termos tido acesso ao conhecimento do Bem e do Mal. Equipados com este instrumento - a mente racional , consciente - começamos o caminho fascinante e terrível que nos trouxe até aqui. Percebemos que é possível querer e conseguir o nosso bem, mesmo que seja à custa do mal alheioseja de animais, seja de humanos. Um preço altíssimo para construir o que chamamos Civilização. Mas continuamos menos felizes que os bonobos. E a nossa agressividade, equipada com armas poderosíssimas, ameaça a sobrevivência da espécie, como nunca antes. Terá valido a pena?

Thursday, August 18, 2022

 

Sabedoria

Tantos milénios de história humana, já revelaram grandes sábios. Mas como passar eficazmente algo da sabedoria deles para a gente comum, para que dela possa tirar proveito? Através do contacto direto com os sábios, muitos certamente absorveram pelo intelecto ou pela intuição, algo valioso. Depois há os escritos, dos sábios e dos seus seguidores fiéis e inspirados. Mesmo assim, muito certamente se perdeu e é bastante difícil hoje encontrar pérolas de sabedoria no meio da avalache de futilidades e das ruidosas atividades humanas. Tal como as crianças aprendem sobretudo pelo exemplo e muito pouco por meras palavras, também assim é com os adultos. Fazemos o que vemos fazer. Se o exemplo é bom, construtivo ou belo, tendemos a imitá-lo. Isso é bom. Sábio útil ao progresso da humanidade é aquele que, através do seu exemplo de vida, modo de ser e de se relacionar, mostra como é bom o nosso lado bom. Claro que os maus exemplos existem e cativam seguidores, mostrando repetidamente como é mau o nosso lado mau.

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